Fugas - dicas dos leitores

Langkawi, a ilha-paraíso malaia

Por Maria João Castro

Aterro ao lado de um mar tão azul e verde que aparenta ser fingido. A sua beleza é eterna porque é efémera: antinomia? Não; paradoxos da paisagem da viagem!

Transfer até ao outro lado da ilha, na parte norte, para efectivar a promessa de uma assoalhada no Éden. A parafernália de diferentes espécies de arvoredo, a selva cerrada que acompanha a estrada e se espraia por cada milímetro livre é de uma beleza surpreendente. Aqui e ali, macacos saltam para a estrada e, mais além, um lagarto de um metro atravessa-a apressadamente.

A chegada ao hotel no mar de Andaman faz-se por entre cordiais boas-vindas e delicados sorrisos. Corro para a praia paradisíaca e mergulho com sofreguidão. 32 graus de temperatura da água, 31 graus de temperatura ambiente. Ah, que leve sensação de liquidificar o gozo incontido...

No final da tarde, a luz do acaso imprime um cunho particular ao local, onde apenas se ouve o som entrecortado das minúsculas ondas a desfazerem-se de espuma na areia, trazidas por uma brisa ténue. A folhagem baloiça ao vento enquanto a madeira das portadas geme à aragem do mar malaio...

Acordo olhando a vegetação cerrada do outro lado da janela que não deixa ver o mar. Enquanto me visto para o pequeno-almoço, um macaco bate-me à janela do quarto. Vê fruta em cima da mesa e fica irrequieto. Por fim, antevendo que não lhe daremos o que pretende, ainda solta um guincho, olha uma última vez para dentro do quarto e salta para o galho da árvore mais próxima.

As horas passam e o sol declina enquanto eu deito ao mar um olhar distraído. Por momentos, a alma voa na maresia cigana da eternidade. Adormeço embalada pelo Índico e acordo banhada pelo sol. Os coqueiros torcem-se ao sol e debruçam-se à aragem quente e o reflexo das palmeiras estremece na água da baía, amortecendo o calor na languidez do corpo.

Jantar à beira-mar, sobre a areia. A quantidade de estrelas que se vêem sugere um céu onde não há lugar para deuses nem demónios fora de nós. Se eles vivem é bem dentro da nossa alma. Adormeço ao som de grilos e cigarras, desperto com um esquilo a escorregar de galho em galho. Cruzo-me com borboletas enormes de cores e desenhos impossíveis e leio histórias de piratas e corsários que andaram por estas paragens. De olhar penetrante, frequentavam em terra tabernas cheias de fumo e de gargalhadas obscenas e vivas. Marinheiros, aventureiros, ladrões, fidalgos ou guerreiros de um ideal, prefiro chamá-los de ciganos do mar que, ao empunharem sabres em desalinho, sorviam cada segundo como a um copo de rum. Entorpeço nas histórias à Alexandre Olivier Exquemelin, autor dos melhores livros de pirataria do século XVII, ou nos de Emilio Salgari, já no século XIX, ambos recheados de românticas aventuras.

A viagem está longe de terminada, apesar de estarmos no fim. O voo de regresso parte atrasado devido a uma trovoada imensa que se desprende em catadupa do céu negro, inundando a floresta e a noite.

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