Mas voltei e apreciei, ainda mais, os diversos tons de verde daquele tapete luxuriante, frondoso e único, salpicado de belos pontos brancos - as estevas -, flores humildes que Sebastião da Gama comparou aos seus versos - "simples e espontâneas" -; a urze rosa, semeada dos céus, adoptada por Torga como pseudónimo; e os lírios do campo que ele tão bem cantou como verdadeiro apaixonado pela natureza.
Prolifera o rosmaninho, o alecrim, o folhado, a rosa albardeira, um sem-número de espécies raras brotando do chão... daquele chão pejado de seixos de várias cores a que lorde Byron chamou de "pedras semi-preciosas", referindo-se ao mármore da Arrábida e acrescentando que ali "até o chão tem cor".
Serra-Mãe de Sebastião da Gama, que nela se inspirou e onde escreveu parte dos seus poemas. Ele amava-a como eu a amo e, quando a saudade aperta, surge-me a sua imagem com todo o seu esplendor. Recordo as arribas célebres "riscando" o horizonte num poente sem igual, a Mata do Solitário, o azul-esmeralda espelhado no mar, o piar dos mochos e corujas nas noites de luar!
"Acordo"... desço até ao sopé onde me espera aquela areia branca (única também). Rolo nela, envolvo-me no canto das cigarras e no chilrear dos pássaros, alimento-me do néctar das abelhas, dos medronhos gulosos e inebriantes, da paz do convento, na clausura de Agostinho e sonho, sonho... Pois, como diz Sebastião da Gama, "p'lo sonho é que vamos!"