Percorra-se o Japão e encontrar-se-ão as cidades mais distintas, com identidades marcadas e as mais surpreendentes declinações de cada uma: da Osaka pragmática, feita para negociar, à excentricidade das suas etnias urbanas; da tradicional Quioto dos templos e do cheiro dos pinheiros nos parque cobertos de verde aos colossais cristais que são os arranha-céus dos centros de negócios de Tóquio; das camadas de viadutos e ruas forradas de letreiros aos kimonos de seda nos comboios suburbanos.
Quem visite Tóquio pela primeira vez e percorra os seus bairros, julgá-la-á cidade de mil facetas. É, para mim, aglomerado de mundos colados uns aos outros pela energia que nos compele pelas ruas, ora no pulsar das avenidas, ora na calmia dos arrabaldes, na paz dos templos ou no frenesim das megastores, amalgamando pessoas, veículos, sons, letreiros e caracteres, cores. Dir-se-ia que Tóquio existe paralelamente, em várias vidas.
Do Japão, recordaria essa diversidade e o contraste entre a modernidade tecnófila e a depuração clássica, as duas tão singulares e sofisticadas como só lá se encontram. Arrisco dizer que existem vários países dentro de cada japonês.
Talvez seja mais eficiente ilustrar estas sensações com imagens emprestadas de escritos mais competentes que o meu. Da cidade feita universo, sugiro Thatness and Thereness, por Ryuichi Sakamoto para a canção com o mesmo nome; sobre a infinita sensibilidade shintoista e zen, alguns poemas Haiku do mestre Matsuo Basho, viajante elementar. De resto, ficam as imagens.
Não esquecerei o gosto solitário do orvalho. Ou o j-pop ecoando pelas passadeiras em avenidas onde passamos centenas de pessoas.
Há Japão dentro de mim...