Fugas - dicas dos leitores

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Mântua, cidade perdida em Itália

Por Patrícia Caeiros

Não há nada melhor do que chegarmos a um destino não planeado. Tudo começou quando, por engano, apanhámos o comboio em Milano Lambrato direito a Mântua, cidade de Romeu quando é exilado de Verona, na peça de William Shakespeare.

À chegada já se sente no ar um cheiro a cidade antiga, ou não fosse um sítio com milhares de anos. Damos os primeiros passos pelo Palazzo del Te e o olhar deambula descansado pelo pátio labiríntico, distribuído por cada entrada dos quatro lados das muralhas. Os jardins dão descanso a uma serenidade desejosa de continuar à descoberta. Segue-se o Percorso del Principe, que ao ser caminhado faz-nos sentir hóspedes ilustríssimas da corte de Mântua, que se preparam para chegar ao Palazzo Ducale, aplaudidas e admiradas por gentes imaginárias.

Esse itinerário encontra-se povoado de edifícios de grandes histórias e instala-se uma calma absoluta à medida que é percorrido. A pedra antiga faz-nos viajar pelos tempos de reis e imaginamos as batalhas das guerras púnicas, que opuseram a República Romana à República de Cartago. Da Piazza Mantegna já se vê ao fundo a cúpula da basílica de Sant'Andrea e suspiramos de esplendor pela edificação imponente e grandiosa que avistamos. Sobressai a tudo o resto que a rodeia e em volta encontramos um bairro de ruas pequenas e estreitas.

Estamos agora na Piazza Erbe com a Rotonda di San Lorenzo, a igreja mais antiga da cidade e dedicada ao mártir São Lourenço, diácono humorista chamuscado. Entramos e ouvimos contar por uma senhora encurvada e toda coberta de preto que é um dos santos mais venerados pela igreja católica, depois de se ter rebelado contra o prefeito da antiga Roma. Quando lhe ordenado, ao invés de entregar a riqueza monetária da igreja, reuniu os cegos, os coxos e todos os doentes, e apelidou-os como os verdadeiros tesouros da Igreja. Impressiona-nos.

Saímos de novo para a Piazza Erbe e sentamo-nos a tentar respirar a mais pequena brisa que sopre no meio de um calor abrasador. Umas pedem gelados de frutas naturais, outras um bolo típico de Mântua - la sbrisolona: sabe a amêndoa e é agradável para quem gosta do sabor, mas não nos tira a sede da boca e, por isso, continuamos a jornada.

Chegamos à Piazza Sordello mesmo a tempo de ouvir os sinos tocarem. Ficamo-nos por minutos no meio da praça, inspiramos aquele momento de sempre e sorrimos. Estamos em paz.

O Palazzo Ducalle fica para o fim, e a sua beleza real está interligada por corredores, galerias, pátios e jardins amplos. Não há tempo para ver tudo.

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