Fugas - dicas dos leitores

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Monte Saint-Michel, a magia de um oleiro

Por Isabel Olivença

O peregrino faz o caminho, caminhando. Sofre também a dureza do meio que escolheu para chegar ao destino. Mas quando chega, ele descansa, ora e agradece a benesse de estar vivo e ter conseguido atingir o objectivo. Afinal, está num local santo e mágico.

É verdade que na nossa vida nem tudo é fantástico, motivador, cativante. Por vezes, surgem problemas que nos tocam ao de leve ou que se instalam profundamente.

Imagine que está no "olho do tornado", que se sente sem soluções, sem ânimo. Alguém o empurra para uma viagem e vai. Viaja como um peregrino, andando, vendo, escutando e reflectindo. Pode ser a sua saída para não ser sugado pela tempestade. Vai observar outras pessoas com problemas, situações caóticas e sítios degradados. E, com o tempo, começa a relativizar as suas vivências.

O Monte Saint-Michel é o local mágico que todos nós procuramos encontrar, pelo menos uma vez na vida. Eu e o meu marido também o desejámos. E fomos.

Mas não somos peregrinos no sentido literal do termo. Não vivemos de rendimentos pessoais ou familiares, temos uma profissão, compromissos... Por isso, rodámos 1700 quilómetros de automóvel até chegar ao nosso destino.

De manhã, quando o olhámos, ao longe, percebemos por que é que desejámos tanto ir àquele lugar. Durante dois quilómetros palmilhámos uma estrada (construída num istmo) elevada uns dois metros do chão, praticamente em linha recta, e sempre com a abadia na mira.

Havia um fervilhar de gente - turistas como nós - na vila. Como todos os outros, de câmara fotográfica em punho procurávamos os melhores ângulos e a luz para uma boa fotografia. Mas não há câmara que capte a beleza daquela ilhota em forma de monte no cume do qual construíram um santuário em pico, torneando todo o monte. O arquitecto seria oleiro?

De manhã até à noite a luz foi mudando, a maré foi subindo e vazando e subindo... Não só se via, como até se ouvia o deslizar e o murmurar da água.

Dentro da abadia, a pedra robusta engrandece as naves, os claustros, as escadarias. Em determinados pontos, estrategicamente posicionado, um instrumentista tocava cravo, ou flauta ou violoncelo ou clarinete. E a música ressoava nos nossos ouvidos.

Quando atingimos o topo da abadia, uma multidão de gente orava, sorria, chorava, murmurava, mas nada de gritos. Um jovem homem segurava no seu filho de poucos meses e elevava-o no ar, rumo ao céu; a mãe olhava-os, emocionada.

Esta absoluta maravilha, património mundial da UNESCO desde 1979 e simbiose de um acidente natural e obra humana, foi mandada construir pelo bispo de Avranches no século VIII, em honra ao Arcanjo São Miguel (Saint-Michel). No século X, os monges beneditinos instalaram-se aí e foram construindo uma pequena vila. Após a dissolução das ordens religiosas ditadas pela Revolução Francesa, o Monte foi utilizado como prisão.

O Monte Saint-Michel está ligado ao continente através de um istmo natural, que ao longo dos séculos foi sendo reforçado até se tornar numa passagem seca. Em 2006, o governo francês anunciou um projecto para tornar novamente o monte uma ilha com a construção de barragens. A ver vamos.

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