Fugas - dicas dos leitores

Arménia, berço da civilização bíblica

Por Maria José Elias

Ierevan, a capital da Arménia, com o Monte Ararat sempre no horizonte, com a neve no cimo, mesmo no Verão: é o monte onde, segundo a Bíblia, pousou a Arca de Noé.

De qualquer ponto da cidade, esse monte prende-nos o olhar pelo seu recorte unico e os tons de aguarela que percorrem uma paleta de cores ao longo do dia e atraiem a nossa contemplação.

A Arménia apaixonou Lord Byron: estudou a lingua arménia, única no mundo, e considerou este país um museu a céu aberto, pela densidade de monumentos e vestígios civilizacionais que possui. Antes de ir será vantajoso preparar a ida com alguem que nos transmita um pouco da Arménia através dos tempos e dos lugares. Encontrámos um grupo de belgas que organizaram antes dois seminários sobre este país em que o reitor da Universidade de Louvain -la-Neuve, especialista da Arménia, os esclareceu, sendo ele que os acompanhava.

Neste país senti-me a vivenciar as raizes bíblicas da nossa civilização, muito anteriores aos esplendores de Gregos e Romanos.

No museu anexo à sede patriarcal em Ejmiadzin, está exposto um escuro e velhíssimo fragmento de madeira legendado como tendo pertencido à Arca de Noé.

Visitei este país duas vezes, a última em Setembro de 2011: esta segunda  por efeito da primeira, dois anos antes e que, pelo entusiasmo transmitido,  dinamizou a ida do primeiro grupo alargado de portugueses que visitou a Arménia,  integrados na APAC (Associação Portuguesa dos Amigos dos Castelos).

A Arménia, geograficamente situada na vasta região do Cáucaso, tem fronteiras com a Geórgia, o Azerbaijão, a Turquia e o Irão, estando apenas abertas as da Geórgia e do Irão. O fecho das fronteiras com o Azerbaijão e a Turquia tendo a ver com a qestões de soberania dos territórios de Nagorno- Karabakh, tem, no caso da Turquia, antecedentes devido ao genocídio dos arménios residentes em território turco por altura da 1ª Guerra Mundial.

Com uma área actual reduzida hoje a 1/10 equivalente ao conjunto do Alentejo e Algarve, possui cerca de três milhões de habitantes. Os arménios da diáspora somam mais oito milhões. Lembremos que Calouste Gulbenkian era arménio...

Um dos símbolos  da Arménia é a romã, que hoje se supõe ser o fruto da árvore do Paraíso. "Pommegranate", o seu nome em várias línguas, significa maçã com grãos ...

O número de monumentos e vestigios arqueológics é impressionante, as distâncias não são grandes, o povo é muito acolhedor, o "dram" é-nos muito favorável como moeda. A língua tem caracteres fonéticos inventados pelo monge Mashtots desde o ano de 405, com um desenho lindo. São únicos, só existem neste país, e o seu uso resistiu a todas as invasões e hoje ainda se mantem como língua oficial de identidade deste povo. O inglês começa a ser meio de comunicação com estrangeiros.

O número de mosteiros medievais no alto dos montes é surpreendente. O Lago Sévan, a Rota da Seda, as cruzes arménias gravadas na pedra, sempre diferentes, e inconfundíveis, fazem disparar as fotos...

Em Yerevan, o Museu dos Manuscritos (Matenadaran) encerra tesouros incalculáveis: mais de 17.000 manuscritos, muitos em arménio... A casa-museu de Sergey Paraianov, realizador de cinema e artista plástico genial... A Cascade, recente espaço de exposições a não perder...

Os cafés têm esplanadas ao ar livre com cadeiras estofadas e sofás debaixo de largos toldos, com um conforto convidativo um pouco oriental...

Nas noites quentes de Verão, os inúmeros repuxos da fonte, na ampla Praça da República, sob os efeitos coordenados de luz e som, agregam os passeantes de uma forma natural e ralaxante.

É o país do mundo que primeiro adoptou o Cristianismo como religião de Estado, em 301. Hoje tem a sua igreja própria, a Igreja Apostolica Arménia, com um Patriarca denominado Catholicos e o seu próprio Rito Arménio.

Os vegetais e a fruta têm um sabor intenso e natural, não há pesticidas, tudo é biológico, o terreno é vulcânico e o solo muito fértil, habitado desde sempre...

O seu brandy é o melhor do mundo: Churchill não queria outro!


[Texto corrigido pela autora: por lapso, mencionava-se uma fronteira com o Afeganistão quando, na verdade, a referência desejada era ao Azerbaijão; referia-se também incorrectamente a Igreja arménia]

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