Fugas - dicas dos leitores

Tróia - As duas faces

Por M. Helena Calapez

Tróia, não a grega de Ulisses e da bela Helena, mas sim nossa, muito nossa, um legado magnífico da natureza. Fica bem perto de nós - uma península, uma língua de terra que vem do Alentejo (Grândola) e se estende gulosa até à foz do Rio Sado, frente à fortaleza do Outão.

Aí a esperam os golfinhos (roazes) que habitam no estuário do lindo rio azul, cantado por poetas e apaixonados - "não há no mundo um rio azul igual ao teu". É esse mesmo rio que a beija e a acompanha com as suas límpidas águas vindas do Caldeirão. É essa face que eu conheço melhor, em especial a sua vegetação debruçada na areia fina como cristal: as dunas altaneiras com espécies únicas - camarinhas, tojo, trevo e sobretudo giestas brancas, como noivas no seu esplendor.

A outra face, a "cosmopolita", estende-se ao oceano pejada de praias: Galé, Carvalhal, Tróia-mar e tantas outras ao correr da longa e bela costa alentejana. Hotéis, restaurantes, apartamentos, desportos, marina e todas as condições dum turismo saudável e no "nosso espaço"! Em frente, a Serra da Arrábida com o Forte de S. Filipe e a respectiva Pousada donde se avista a baía de Setúbal em toda a sua pujança, já considerada uma das mais belas do mundo.

Contudo, continuo a recordar a minha infância e juventude à margem sadina dessa lendária Tróia, com as suas ruínas romanas, salgas de peixe, mais além a Caldeira (reentrância do rio) com a capela da nossa Sª. de Tróia, saudada e venerada todos os anos pelos pescadores com a sua procissão de barcos enfeitados e os respectivos piqueniques com os berbigões e amêijoas apanhados na hora - e tanto, tanto mais nesta face!

No entanto, o que mais gravo na memória são as giestas em flor - na altura ainda a Tróia despovoada de construção era um cartaz. Excursões efectuavam-se para o espectáculo das dunas brancas de areia e giestas, verdadeiras noivas, com a sua brancura imaculada e aroma inebriante.

Tróia continua a ser jóia rara. Tróia é nossa, é de todos.

Ainda hoje o Alentejo e Setúbal a disputam! Não há razão! O rio e o Oceano dão o exemplo, juntando num abraço as suas águas límpidas e onde o céu se espelha, o sol mergulha ao entardecer e onde a lua cheia enche de escamas prateadas o oceano e o Sado.

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