Com um passado demasiado recente, a cidade aos poucos sai do seu casulo vermelho e da sua rigidez ditatorial. Os edifícios imponentes, palacetes e inúmeros jardins, camuflam-se nas construções minimalistas ao estilo comunista. A cidade tem a cor de uma areia lamacenta.
Mas os costumes começam a mudar. Lojas de roupa de luxo, carros demasiado bons, casas opulentas e restaurantes finos do lado de lá do Parque Herastrau - um bosque no meio da cidade, com um enorme lago, onde os habitantes passam as suas tardes quentes à pesca, a patinar ou a andar de gaivota.
Já no centro da cidade, o moderno mistura-se com o antiquado, as roupas simples com as tendências florescentes. Publicidade de viagens, de refrigerantes e outros produtos inalcançáveis para muitos dispara nos outdoors. É que as notas, indestrutíveis, abundam mas valem pouco.
O povo confunde-nos entre a amabilidade e a indelicadeza. Uma conversa amigável por qualquer pretexto transforma-se em cara feia e amuo quase infantil.
Os táxis, tão baratos que se tornam uma opção muito mais apelativa do que qualquer outro transporte público, ziguezagueiam no trânsito caótico. É buzinadela, é palavrão, é contra-ordenação.
A noite é sofisticada - bares modernos, mini-saias e saltos altos, copos na mão e música comercial. O dia é pouco alegre - corpos que deambulam na rua, a caminho dos seus afazeres, parando minutos infinitos nas passadeiras à espera do verde, contornando os muitos, alguns pretensos, pedintes. Todos lutando pela mesma coisa - sobreviver.
Crianças brincam nas ruas, procurando no meio do lixo algo com que se entreter. Os ciganos aglomeram-se nos prédios abandonados e decoram os seus novos lares. Sentimo-nos seguros, no meio de tanta confusão.
Tantos são os contrastes que os mais longos dias com 46º se transformam num ápice em dias curtos que acabarão em temperaturas negativas.