A Europa, por definição integralista, como se querem os pretensos impérios, é mais dada a conceber cidades divididas em duas, com um rio ao meio para amenizar a falta de mar. Rio que se pede ser encimado por uma ponte, por onde possam passar carros e comboios, charretes e cavalos e, porque não?, também pessoas.
Copenhaga, a cidade mais europeia da Escandinávia (ou devo dizer a cidade mais escandinava da Europa?) tem até uma ponte para uma outra cidade de um outro país: Malmo, na vizinha Suécia. Não fosse Copenhaga a ponte mais que perfeita entre a Europa e a Escandinávia.
Chegado a este ponto, isto é, de ponte em ponte, damos de caras com Riga, cidade entrecortada pelo rio Daugava e que muito contribui para lhe dar o estatuto de cidade da Europa continental. O rio e os edifícios de recorte holandês e germânico, todos eles erguidos muitos anos antes - ou seja, séculos - do domínio sueco e das sovas soviéticas.
Na verdade, Riga revela-se a ponte imperfeita entre a Escandinávia e a Rússia, ou o que de russo resta na Rússia e arredores. Imperfeita por, para pesar dos pecados dos letões, pender para o lado leste.
De resto, a realidade de Riga, não obstante uma certa nostalgia, parece debruçar-se na direcção do futuro - ainda que atabalhoadamente.
Cidades assim, cidades-ponte, jamais permitirão sentir-se parte dela. Incrustam-nos o estatuto de estrangeiro à partida e à chegada. Nem aos nativos parece ser possível fruir da sensação de pertença. Palavras para quê? São cidades-ponte, senhores, são cidades-ponte.