Fugas - dicas dos leitores

No Vietname, Me help

Por Sara Virtuoso

Sapa. No Norte do Vietname, há sempre alguém pronto para nos ajudar. O nevoeiro cerca-nos. A humidade do ar espalha-se pelo chão e tudo é lama, lama, lama. Fazemos o famoso trekking pelos arrozais de Sapa. O guia diz-nos que não é a melhor estação - a estação seca, que começa lá para Outubro e em que os campos estão prontos e o amarelo predomina.

Mesmo assim, é deslumbrante. Os semicírculos verdes e castanhos, húmidos, entre os quais volta e meia aparece um búfalo a pastar. A lama faz-nos escorregar (por vezes faz-nos mesmo cair a pique, numa descida íngreme, e só paramos quando uma rocha se depara à nossa frente).

Nada melhor que alguém  para nos auxiliar nesta jornada. As mulheres de etnia hmong, com os seus pentes enfiados no meio dos cabelos negros e os brincos a alargar os furos das orelhas, com os seus vestuários pesados e coloridos e o seu cesto de palha às costas, estão sempre, sempre lá.

Aos menos estáveis, dão as mãos - sempre que temos de descer um caminho rochoso, atravessar um riacho, circundar os terraços de arroz, ou somente quando lhes parecemos aflitos. O seu inglês parece-nos perfeito. "Where are you from?", "What is your name?" "How old are you?" - sempre a mesma lengalenga, na qual se saem perfeitamente. Não sabem escrever, mas onde aprenderam tão bem a língua estrangeira? Estão habituadas a turistas e empreendem uma conversa ambiente, para nos ajudar a passar o tempo nesta caminhada. Quando tentamos perceber mais coisas sobre o seu povo, a língua surge como obstáculo. Todas têm nomes pequenos, como Tan, Man, Me. "Me help" dizem-nos elas de cada vez que alguém escorrega na lama.

Sapa é um pequena cidade, de aproximadamente 37 mil habitantes, localizada nas montanhas no Norte do Vietname. O mercado de Bac Ha é um misto de alegria e pobreza - as roupas tradicionais das mulheres do Norte, apesar de os vietnamitas terem sofrido tanto, são uma explosão de cores, com acessórios lindos. O mercado, esse, tem de tudo.

Para começar tem pó até mais não, vendem roupa e acessórios para turistas, vendem búfalos, ratazanas, cana de açúcar, tudo. De repente, o nevoeiro cerca-nos e assim passamos os dois dias lá em cima - nunca vimos o sol, nunca secamos as roupas, nunca aquecemos os ossos. Dormimos numa homestay - de um casal muito jovem (ela esperava o seu primeiro filho). Jantamos uma óptima refeição preparada por eles, com direito a bolos de banana improvisados e tudo.

A comida é trazida da cidade, por um amigo que vem de moto, e por isso é toda ela racionada. Ainda assim, chegou para nós três e para uns amigos que tínhamos conhecido há coisa de meia hora (dois franceses, uma argentina e um israelita). Foi o jantar mais divertido de sempre - regado a vinho de arroz, uma bebida da zona (e não vendida a estrangeiros) também conhecida como happy water. And... so happy we were.

Dormimos cedo e acordámos tarde (efeitos colaterais da bebida, desconfio).

Como diria Theroux, as mulheres vietnamitas não são velhas. Mesmo as mais velhas, rondam os 50 anos, no máximo, e estão acabadas. O guia explica-me que é do tipo de alimentação, com muito arroz, pouca carne e poucos legumes. As crianças são transportadas por outras crianças, que afinal não são crianças, e já têm uma prole enorme a seu cuidado.

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