Fugas - dicas dos leitores

A irreal brisa de Zanzibar

Por Maria João Castro

A estrada de asfalto, guarnecida de hibiscos, gardénias e árvores exóticas coloridas, acaba num portão alto de madeira, ladeado por muros subidos de cimento. Numa imponente placa de madeira pintada com letras brancas lê-se: “Karibu Breezes”, que é como quem diz, “Bem-vindo ao Breezes”, em suaíli. Estou na ilha de Zanzibar.

Uma longa passadeira de madeira, emoldurada por entre uma vegetação frondosa, desemboca num terraço onde sofás e camas de dossel forradas a sedas de tons fortes em rosa e roxo contrastam na perfeição com os móveis indo-árabes espalhados pela divisão.

Dirigimo-nos até à praia pelo carreiro, emoldurado por buganvílias entrelaçadas nas palmeiras. O mar, sereno e rasteiro, demora-se até à barreira de coral, ao fundo, mudando de cor no instante de uma braçada.

Os recantos sucedem-se, enlevando-nos: o Tides, o restaurante mais pequeno do mundo, que consiste numa cabana à beira-mar onde se janta a dois; o café da piscina, redondo e com ondulantes cortinas azul-forte e o Baraza Bar, um cantinho inundado de véus, almofadas e candeeiros de vidrinhos dourados; e finalmente o quarto, enorme, sobre o qual se abre um alpendre que dá para o Índico. Na aragem da tarde que acaricia as árvores, só existimos nós e o oceano. Dois botes levitam sobre as águas e os matizes de azul-turquesa e verde-esmeralda não lembrariam à paleta do melhor pintor…

Ao som das tímidas ondas e do chilrear dos primeiros pássaros, que saltitam entre as árvores, deixo-me assombrar com a quietude e a beleza de tão raro instante nas nossas vidas, quase sempre apressadas. É impossível não me sentir uma privilegiada. Ah!, a agradável monotonia da água morna e transparente!

Os dias desfilam céleres, entre alvoreceres de céu límpido, sombreados pela juba das palmeiras, e poentes que possuem sempre algo de religioso. Nada se ouve, nada mexe. Só o mar ao longe sussurra breves notas de embalar. Sento-me na areia fina. Atento no céu onde as estrelas se almofadam. Nenhuma dúvida essencial é esclarecida. Nada fico a saber de fundamental. Milhões de anos, estrelas de um universo que não abarco, cada uma um ínfimo grão, tal como a poeira desta praia imensa. Num murmúrio contínuo, o mar faz-me companhia e conta segredos à fugaz memória de uma desconhecida. Da lua emana uma luz que torna nítida a nudez das coisas, cristalizando o momento. Goethe escreveu que “a noite é metade da vida, a metade melhor”. Aqui, debaixo deste céu, é possível acreditar nisso.

Sob um luar prateado, a terna aragem nocturna. Abro a porta da varanda de par em par; as cortinas incham com o vento marítimo. Tudo está sereno. Deixo uma gardénia perfumar-me o sono e a chuva tropical embalar os sonhos.

Dia de partir. A bad-i-saba, a “brisa sagrada da manhã”, traz-me recordações vadias enquanto o portão imenso se fecha atrás de mim. 

Asante sana Breezes, que é como quem diz: Obrigada Breezes!

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