"Así es México", rematou um rapaz que geria um hostel na Cidade do México quando me contou que para assumir um cargo administrativo de gestão de contas no Estado (ou numa empresa) não era inteiramente necessário que se tivesse habilitado. Uma pessoa assumia a função e se não soubesse ia aprendendo o ofício. “Así es México” foi fazendo cada vez mais sentido à medida que ia viajando pelo país.
Talvez o México seja conhecido sobretudo pela paradisíaca Riviera Maia abundantemente visitada por turistas, pelo tráfico de droga, pelos conflitos fronteiriços com os vizinhos a norte — e por uma das mais antigas profecias da história da humanidade fracassada no ano que findou. Mas o México obviamente não se resume a tão pouco.
Imponentes desfiladeiros, praias paradisíacas, vulcões, densas florestas, desertos, lagos, montanhas, quedas de água, ruínas de uma civilização milenar, cidades coloniais históricas e uma exótica fauna colocam-no na quinta posição a nível mundial, e na primeira nas Américas, em numero de patrimónios mundiais consagrados pela UNESCO.
É também detentor de uma rica e variada cultura que acima de tudo é popular. Se queremos provar o melhor da sua gastronomia, conhecer o melhor do artesanato, não é necessário entrar em museus, lojas ou procurar os melhores restaurantes, basta perdermo-nos pelos mercados. Para ouvir o melhor da sua música, conhecer a dança ou artes performativas não precisamos de ir a uma sala de espectáculo, vamos até ao Zócalo, a praça central da cidade onde todos os dias as pessoas se concentram e a animação se instala.
Os mexicanos são orgulhosos da sua cultura. Decidi, em Oaxaca, entrar num pequeno restaurante para provar alguns dos pratos locais. No final da refeição, a gerente do restaurante tinha-me ensinado a fazer tortilla e dera-me a conhecer a planta verdolaga, ingrediente usado na cozinha regional.
Algumas ruas acima, entrei num café para tomar um expresso (Oaxaca é também conhecida pelo seu café). Quando saí, deram-me a provar três tipos de mezcal e recomendaram-me um bom e económico para comprar no mercado.
O México é também marcado por contrastes. Não deixamos de nos impressionar quando vemos a polícia aparatosamente equipada patrulhando as ruas com M16, ou quando um bloqueio de estrada é feito por locais armados e encapuzados para fazerem uma colecta de dinheiro para angariação de fundos; quando vemos um protesto de mulheres indígenas que levantam acusações de serem espancadas, violadas e raptadas por reclamarem o direito à auto-determinação de uma região; ou quando somos advertidos para não viajarmos para o Norte porque o conflito dos cartéis escalou.
Como qualquer país que se preze na América Latina, a religião católica é um pilar fundamental da sociedade que se faz notar no dia-a-dia dos mexicanos. Basta-nos entrar num chicken bus para ficarmos com a sensação de nos estarmos a locomover numa capela sobre rodas. A frente do autocarro é decorada à imagem de um altar, enfeitada com todo o tipo de motivos religiosos. Em vez de um padre, temos um motorista que conduz freneticamente pelo diabólico tráfego da cidade. Com fé de chegarem ao seu destino sãos e salvos, vão sentados atrás os passageiros. É possível que encontre mais pedintes na Rua Augusta, em Lisboa, do que em qualquer rua no centro da Cidade do México. Em contrapartida, desenvolveu-se por todo o lado comércio ilegal onde tudo se vende. Pastilhas, batatas fritas, música e filmes pirata, cigarros avulso, capas para telemóvel e imagens da Nossa Senhora da Guadalupe são alguns dos produtos que podemos adquirir a módicos preços enquanto viajamos nas extensas linhas de metro que fazem circular a população de uma das mais densas cidades do mundo.