Fugas - dicas dos leitores

Mónaco, o brilho do “Rochedo”

Por Maria João Castro

A entrada no principado acontece através da encosta escarpada a oeste. A tabuleta a indicar o Jardim Exótico vai ficando para trás à medida que, iluminada pelo sol do inverno, Monte Carlo perde o certo mistério aristocrático da véspera.

Este pequeno Estado situado entre Nice e a fronteira com Itália deve a sua fama ao glamour dos seus residentes de elite mas há um perfume no ar que lhe acentua a feminilidade.         

O passeio começa pelo Museu Oceanográfico, um edifício empoleirado sobre um rochedo da Côte d´Azur. Fundado no início de Novecentos, a estrutura parece ter sido esculpida a partir da pedra que a envolve ecuja fachada se projecta, do alto de 85 metros, sobre o mar.

Subo a ladeira para a catedral. Construído em pedras brancas de La Turbie, em 1875, o templo, de estilo românico-bizantino, abriga as sepulturas dos príncipes passados. Os ofícios pontificais têm lugar nas grandes festas litúrgicas, sob os acordes de um grande órgão de quatro teclados inaugurado em 1976, cuja magnificência permite a organização de notáveis concertos espirituais. 

O palácio monegasco remonta ao século XVIII e encontra-se situado num local privilegiado – é o guardião de uma tradição secular e foi edificado sobre o terreno de uma fortaleza construída pelos genoveses em 1215.

Do terreiro do paço obtém-se uma boa panorâmica do principado: desde o porto de Fontvieille à baía do porto Hércule, onde aproveito para saborear um pequeno-almoço mediterrânico. À minha frente encontra-se um daqueles senhores macambúzios que fazem uma péssima digestão da vida mas eu prefiro contemplar os veleiros e iates fundeados ao largo da marina, levitando sobre as águas da Costa Azul.

Passamos o Fórum Grimaldi, a praia do Larvotto e o Sporting Monte-Carlo, terminando a soberania do “Rochedo” na Ponta Velha da vigia.

O principado dos Grimaldi surgiu em 1297 quando esta família de Génova recebeu do Sacro-Imperador romano-germânico Henrique IV a soberania do conjunto de terras que rodeavam o rochedo do Mónaco e, para atrair uma população estável, concedeu uma série de vantagens, como a concessão de terras com isenção de impostos. Durante a Revolução Francesa, o principado foi anexado à França, tendo a sua soberania sido restabelecida em 1861, ainda que debaixo do protectorado francês.

A cidade-estado soberana apresenta-se como um microestado que se estende por dois quilómetros quadrados, sendo o segundo menor Estado do mundo, atrás apenas do Vaticano, mas tem a maior densidade populacional do mundo. Um paradoxo? Nem por isso. A explicação reside no facto de o diminuto reino constituir um aliciante destino para as grandes fortunas, uma vez que os seus cidadãos não pagam impostos. Na verdade, ao apresentar-se como um paraíso fiscal, incitou ao longo das últimas décadas de Novecentos a fixação de investidores que não estão sujeitos a impostos sobre renda.

Monte Carlo, a efémera e glamorosa, vai ficando para trás como uma imagem pintada a pastel, numa palete de ocres claros até ao dourado-velho.

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