Fugas - dicas dos leitores

Ao sabor das marés

Por Susana Manteigas

Duas realidades coabitam nos meses de Verão no pedaço de areia que a ria Formosa separa do continente. A das gentes que colhe nas redes os frutos que o mar vai dando e a dos forasteiros que procuram praia a perder de vista, boa comida e muito descanso.

Realidades que se alimentam mutuamente em pleno Verão na Ilha da Culatra, língua de areia que se estende, frente a Olhão, embora pertencente ao município de Faro, até ao Farol, passando pelos Hangares. Se a formosura da ria está na partida e na chegada dos barcos de pesca, já o Atlântico, depois da travessia das dunas pejadas de plantas que soltam o cheiro quente e acre do deserto, abre caminho em direcção ao norte de África.

Lendas de mouras encantadas e estórias dos que foram apanhados pelas malhas, cada vez mais largas, das redes de pesca são contadas à mesa de uma esplanada ou no pátio de alguma casa de férias, ao final de mais uma tarde quente. É este o segredo da ilha. A hospitalidade dos habitantes da Culatra — gerações de homens do mar e de mulheres que em terra escavam nos baixios para ajudar no sustento – que prende, sobretudo pela boca, e surpreende o turista. Peixe seco, caldeirada de búzios, ostras ou qualquer fruto do mar dão as boas-vindas a quem já lamenta um fim de férias marcado.

As despedidas fazem-se com lágrimas nos olhos ao entrar no barco que leva à terra firme continental. À medida que a Culatra fica para trás, cada nascer e pôr do sol é revivido pela promessa de retorno.

Cada iate que parte deixa o rasto da saudade desenhado no espelho de água. Tal como a traineira que deixa o porto de abrigo e se faz ao mar, embarcando numa viagem entre marés, com preces de um regresso anunciado pelo canto das gaivotas.

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