Fugas - dicas dos leitores

Mata Nacional dos Medos, o prazer da viagem

Por José Alberto Santos

Pode uma simples caminhada pela natureza ser algo divertido e apaixonante? Acredito sinceramente que sim. Este é o nosso espólio…

1 de Maio de 2009. 8h40m de uma bela e clara manhã de um dia soalheiro. Acordo ao som de um duche frio, arrebito definitivamente após um frugal pequeno-almoço. De olhos bem abertos, entramos no carro e fazemo-nos à estrada. Vinte minutos depois, chegamos à Fonte da Telha. A minha irmã Tina e o meu cunhado Zé, companheiros do mesmo destino, recebem-nos jovialmente. Descemos em busca do único bar aberto àquela hora para a “bica da manhã”. Rumo traçado, ala que se faz tarde.

Entramos nos carros e um par de minutos depois chegamos ao ponto de partida da nossa caminhada, situado num parque no meio do pinhal junto ao portão da Apostiça. Mochilas às costas, cantis à cintura, máquinas fotográficas a tiracolo, roupa adequada e aí vamos nós para uma tonificante caminhada através do grande pulmão do concelho de Almada: a mata dos Medos. Que de sinistra nada tem.

Conta a História que El-Rey D. João V mandou plantar este imenso pinhal na actual Paisagem Protegida da Arriba Fóssil da Costa de Caparica, com o intuito de fixar as areias provenientes das dunas da orla marítima que invadiam os terrenos agrícolas do interior existentes na altura. Daí que a zona também seja conhecida como Pinhal do Rei. Transposto o portão da Apostiça, em fila indiana começamos a nossa caminhada mata adentro pelo meio de três centenas de hectares de arvoredo composto maioritariamente por pinheiros mansos. Voando au ralenti, borboletas amarelas e castanhas dão as boas-vindas. Damos os primeiros passos por entre clareiras planas, relvadas de diferentes tons de verde, e nalguns casos protegidas por zonas densamente arborizadas. Chega-nos o perfume irrequieto de pinheiros mansos que abrigam, aqui e ali, pequenos arbustos, como sabinas das praias com as suas conhecidas bagas vermelhas pequeninas.

Também observamos alguns medronheiros. Raios de luz rompem entre as sombras dos altos pinheiros, cuja voz silenciosa nos transmite calma e serenidade. Peneireiros grasnam árias em clave de sol. Ao longe o piar de um mocho solta-nos um sorriso. Abruptamente, o roncar dos motores de algumas motos que passam por nós e teimam em estragar esta beleza natural. Depois, no fim, surge apenas o apaziguador sussurro do vento lá bem no alto da copa das árvores.

Para diante deparamos com pequenas dunas de areia fina e branca da praia, com tufos de alecrim ou rosmaninho. Em algumas dunas vimos também tocas de ratos-do-campo. Por vezes o olfacto traz às nossas narinas o cheiro de salva misturada com hortelã-pimenta brava. Nos médios arbustos de tojo que orlam as ladeiras aparecem nos seus braços grandes cachos de pequeninas bolinhas de sabão entrançadas umas nas outras. O meu cunhado diz que estas bolinhas sinalizam os locais onde os cucos cantaram ontem à noite.

Deixo-me levar pela lírica melodia do Atlântico, que entoa à minha direita. Fecho os olhos e, como que por magia, sinto deslocar-se por todo o bosque uma espécie de mantra. Dando uma paz e tranquilidade ímpar ao momento. Um besouro voa acrobaticamente por cima das nossas cabeças. Faz-se sentir o vigoroso e suave abraço da canícula.

--%>