Os nossos quatro companheiros de mergulho já estão dentro de água. Denzel é grande, feio e de mau feitio; Bess, a única menina, é companheira de Houdini que, sem surpresas, é um mestre da fuga, e Chopper, bom ... o mínimo que se pode dizer é que é um lutador e que foi em confrontos violentos que perdeu dois membros.
Ah!, esqueci-me de um pormenor: são salties, temíveis crocodilos australianos, monstros pré-históricos que chegam aos 5,5 metros e 790kgs (Chopper). E, sim, é com eles que vamos mergulhar no Crocossauros Cove, em Darwin, na Austrália.
Para descanso de todos e, sobretudo, nosso, é importante dizer que não é de corpinho bem feito que vamos enfrentar os colossos, mas dentro de uma gaiola de acrílico que dá pelo nome sugestivo e tranquilizador de Cage of Death.
Mesmo assim, o assunto é sério. Convidam-nos a sentar junto a uma mesa, estendem-nos um papel para assinarmos, não sem que antes nos leiam os direitos e deveres, a longa lista dos perigos. Reforçam avisando que a actividade é potencialmente mortal, que “até hoje a caixa não se partiu com a força de um ataque, mas pode acontecer” e “não podem ignorar que, por vezes, o medo, provoca ataques cardíacos”.
O que tentamos ignorar é a sensação esquisita no estômago; enchemos o peito de ar que, quem sabe, só sairá num suspiro final, e deixamos que a caneta registe a nossa anuência.
Papéis assinados, fato de banho e óculos de natação, entramos na gaiola. Passam-nos para a mão um desentupidor de canos que servirá para nos fixarmos às paredes da caixa mantendo-nos no fundo.
A grade que é o nosso tecto fecha-se, a grua começa a deslocar-se lentamente e a mergulhar-nos no primeiro tanque onde Houdini e Bess nos esperam com indiferença. Esbracejamos, batemos nas paredes com as mãos, com os pés, com o desentupidor, agitamos a água violentamente mas nem uma piscadela de olhos conseguimos provocar.
Repetimos os exercícios cada vez com mais intensidade no tanque de Denzel. De Chopper aproximamo-nos a 50, 20 cm, tocamos-lhe mesmo com a gaiola e... nada, niente, zero.
Última tentativa, regresso ao lar do casal e, aleluia!, Houdini está um pouco mais activo, dá sinais de alguma agitação. Sem parar de esbracejar, vimo-lo começar a deslocar-se na nossa direcção e, com ar indolente, passar mesmo junto a nós e nadar até ao fundo da piscina, provavelmente para lá encontrar o descanso que não lhe estávamos a permitir.
Mergulhar com crocodilos? Pffff... Venham os tubarões!