Fugas - dicas dos leitores

Mergulhar com crocodilos na «gaiola da morte»

Por Margarida Matias Pinto

Um mergulho na Austrália com grandes crocodilos por companhia... Dentro de um gaiola protectora, claro.

Os nossos quatro companheiros de mergulho já estão dentro de água. Denzel é grande, feio e de mau feitio; Bess, a única menina, é companheira de Houdini que, sem surpresas, é um mestre da fuga, e Chopper, bom ... o mínimo que se pode dizer é que é um lutador e que foi em confrontos violentos que perdeu dois membros.

Ah!, esqueci-me de um pormenor: são salties, temíveis crocodilos australianos, monstros pré-históricos que chegam aos 5,5 metros e 790kgs (Chopper). E, sim, é com eles que vamos mergulhar no Crocossauros Cove, em Darwin, na Austrália.

Para descanso de todos e, sobretudo, nosso, é importante dizer que não é de corpinho bem feito que vamos enfrentar os colossos, mas dentro de uma gaiola de acrílico que dá pelo nome sugestivo e tranquilizador de Cage of Death.

Mesmo assim, o assunto é sério. Convidam-nos a sentar junto a uma mesa, estendem-nos um papel para assinarmos, não sem que antes nos leiam os direitos e deveres, a longa lista dos perigos. Reforçam avisando que a actividade é potencialmente mortal, que “até hoje a caixa não se partiu com a força de um ataque, mas pode acontecer” e “não podem ignorar que, por vezes, o medo, provoca ataques cardíacos”.

O que tentamos ignorar é a sensação esquisita no estômago; enchemos o peito de ar que, quem sabe, só sairá num suspiro final, e deixamos que a caneta registe a nossa anuência.

Papéis assinados, fato de banho e óculos de natação, entramos na gaiola. Passam-nos para a mão um desentupidor de canos que servirá para nos fixarmos às paredes da caixa mantendo-nos no fundo.

A grade que é o nosso tecto fecha-se, a grua começa a deslocar-se lentamente e a mergulhar-nos no primeiro tanque onde Houdini e Bess nos esperam com indiferença. Esbracejamos, batemos nas paredes com as mãos, com os pés, com o desentupidor, agitamos a água  violentamente mas nem uma piscadela de olhos conseguimos provocar.

Repetimos os exercícios cada vez com mais intensidade no tanque de Denzel. De Chopper aproximamo-nos a 50, 20 cm, tocamos-lhe mesmo com a gaiola e... nada, niente, zero.

Última tentativa, regresso ao lar do casal e, aleluia!, Houdini está um pouco mais activo, dá sinais de alguma agitação. Sem parar de esbracejar, vimo-lo começar a deslocar-se na nossa direcção e, com ar indolente, passar mesmo junto a nós e nadar até ao fundo da piscina, provavelmente para lá encontrar o descanso que não lhe estávamos a permitir.

Mergulhar com crocodilos? Pffff... Venham os tubarões!

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