Fugas - dicas dos leitores

A oeste, mais uma rota, de Peniche ao Bombarral

Por António Silva

Manhã soalheira, ameaçada por nuvens carregadas, desencorajadas, contudo, por uma temperatura amena de um profundo, embora pouco rigoroso, Outono de início de Novembro. Saída da orla de Peniche após um farto e típico pequeno-almoço de hotel, no quatro estrelas quanto baste, Atlântico Golfe Hotel.

Em Peniche a oferta é basta e variada. Há a famosa Tasca do Joel que infortunadamente encontro quase sempre fechada nesta época do ano. Em alternativa, a escolha recai invariavelmente sobre aquele que é quase sempre a principal opção, desde a primeira caldeirada, o Rocha. No final da marginal antes da curva à direita para o forte, à primeira vista pouco apelativo, mas descontraído, aconchegante, de boa comida e carteira. 

De volta à rota, o caminho segue pela nacional, fora dos rápidos itinerários principais (IP6) e autoestradas (A8), que o tempo é de passeio e admiração, destino ao Buddha Eden, Quinta dos Loridos, Bombarral. Pela nacional N241, não a principal, mas a secundária a N241-1, para maior ruralidade.

Seguem-se quase duas dezenas de quilómetros pelo planalto das Cesaredas. Separação entre o pujante oceano e o sereno campo de cultivo. Dele se avistam ambos, num cenário de rara beleza. É ir devagar e espreitar à direita e à esquerda.

As cores são do azul acinzentado do céu e do mar, ofuscado ao longe pelos raios de sol, do verde da vegetação baixa de breves canaviais, oliveiras e vinhas atarracadas, do castanho forte da terra esventrada por socalcos e carreiros de cultivo bem delineados e de dimensão média pequena.

O ligeiro cheiro a estrume misturado e disfarçado pelo verde das couves e outras hortaliças, temperadas em crescimento pelo ar salgado e húmido da maresia. 

Gigantes no jardim dos budas, são algumas estátuas e estatuetas, de cimento bruto em formato oriental com pequenos e raros laivos de cor quente da terra. Conjunto de resultado estranho, num devaneio ou capricho milionário do comendador Berardo, louvado, apesar de tudo, pelo objectivo cultural do espaço. A extensão será a ideal, não justificando a opção do comboio, a não ser pelas crianças, sempre apreciadoras desta aventura. Longe de exuberante, visita bem justificada pela agradabilidade do espaço a céu aberto.

Aberto o apetite, como sempre se ouve dizer, pelos ares do campo, tempo então de almoçar. Logo ao lado, de carro, perto do Santuário Senhor Jesus do Carvalhal onde prevalece o sossego e pacatez, o Lagar. Restaurante pequeno, pitoresco e cuidado. Ementa nada exuberante, dentro do normal tradicional da cozinha portuguesa. Vai ser um polvo à lagareiro e um arroz de pato. Antes, para entrada, presunto e uma grossa fatia de queijo. De entre uma garrafeira publicitada como das maiores da península, não a de Peniche, a Ibérica mesmo, que vinho? Só um momento. Orientação preciosa e concisa do anfitrião. Da região, Dão ou Alentejo? Região. Aberto ou encorpado? Aberto. Sai um Quinta de S. Francisco de Óbidos. Bem escorrega com a refeição! O polvo servido em pequenos pedaços tenros, numa travessa metálica com azeite quente e alho, rodeado por batatas a murro. Simples e muito bom. O arroz de pato, desfiado, tostado, com finas rodelas de morcela e outros enchidos num arroz árabe, colorido pelo amarelo do açafrão sarapintado de passas. Para sobremesa? Duas! Um gelado caseiro de três sabores num só, mas em camadas distintas, regado com chocolate quente, e, o especial do Lagar, uma generosa taça de doce de maçã reineta escondido pela cobertura de suspiro. De suspirar! De barriga e alma mais do que cheia, satisfeita, o regresso faz-se pela rota que mais convier ou apetecer, pelo caminho inverso de volta à praia ou ao hotel para um mergulho na piscina interior, para Óbidos e uma ginja ou mesmo para casa que Lisboa é logo ali.

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