Fugas - dicas dos leitores

Kaprun, o caminho da águia

Por Luís Contente

Nos Alpes austríacos existe um mundo feito de glaciares milenares, florestas impenetráveis e cumes vertiginosos. É o parque natural de Hohe Tauern, onde a aventura responde pelos nomes de Grossglockner, Pasterze, Kitzsteinhorn, Kaprun.

Percorrer essa geografia significa descobrir minas de sal nas entranhas das montanhas, catedrais de gelo em grutas profundas, gargantas estrondosas onde correm cascatas enlouquecidas. As subidas são agrestes, as descidas a pique, a paisagem veste-se de verde ou explode em paredões de granito que dificultam o andamento.

Mas as recompensas espreitam por todo o lado, à espera de uma nova conquista, de mais uma vitória sobre os elementos. A partir desse momento, a natureza torna-se sensorial. O musgo trepa pelos troncos das árvores, a cascalheira rola sob os passos do homem, aromas perfumam o ar com odores matinais, e, ao longe, nascem diademas rochosos.

Quando o vento varre a folhagem forma-se uma noite de nuvens que não tardam a libertar um aguaceiro apocalíptico. É a voz da montanha que desaba sobre os vales, despejando raiva, afirmando a sua autoridade.

Felizmente, o sol não demora a afastar o cataclismo e o mundo desperta de novo para a vida. O céu fica ainda mais azul, as vacas pastam, serenas e as marmotas brincam umas com as outras. Foi essa liberdade de existir que um grupo de caminheiros portugueses teve o prazer de desfrutar durante dias intensos de natureza virgem, vistas limpas, oxigénio puro, onde os trilhos percorridos foram quase sempre os do caminho da águia. 

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