Percorrer essa geografia significa descobrir minas de sal nas entranhas das montanhas, catedrais de gelo em grutas profundas, gargantas estrondosas onde correm cascatas enlouquecidas. As subidas são agrestes, as descidas a pique, a paisagem veste-se de verde ou explode em paredões de granito que dificultam o andamento.
Mas as recompensas espreitam por todo o lado, à espera de uma nova conquista, de mais uma vitória sobre os elementos. A partir desse momento, a natureza torna-se sensorial. O musgo trepa pelos troncos das árvores, a cascalheira rola sob os passos do homem, aromas perfumam o ar com odores matinais, e, ao longe, nascem diademas rochosos.
Quando o vento varre a folhagem forma-se uma noite de nuvens que não tardam a libertar um aguaceiro apocalíptico. É a voz da montanha que desaba sobre os vales, despejando raiva, afirmando a sua autoridade.
Felizmente, o sol não demora a afastar o cataclismo e o mundo desperta de novo para a vida. O céu fica ainda mais azul, as vacas pastam, serenas e as marmotas brincam umas com as outras. Foi essa liberdade de existir que um grupo de caminheiros portugueses teve o prazer de desfrutar durante dias intensos de natureza virgem, vistas limpas, oxigénio puro, onde os trilhos percorridos foram quase sempre os do caminho da águia.