Fugas - dicas dos leitores

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Nas ilhas das roças abandonadas

A maioria das estradas não são alcatroadas, são picadas de terra ou de lama por onde se anda em veículos japoneses com tracção às quatro rodas. Aliás, grande parte das ilhas nem tem acessos para automóveis e muito dificilmente o ser humano aí penetra. As praias desertas são incontáveis. De um modo geral, não há bares nem restaurantes. As paisagens deslumbrantes. As caminhadas pela floresta são inesquecíveis. No norte da ilha principal existe um improvisado restaurante à beira mar, propriedade de um cidadão português, onde se come um peixe grelhado e umas santolas inesquecíveis.

A ilha de São Tomé, situada em pleno Equador, e a ilha do Príncipe são dois paraísos perdidos no meio do oceano Atlântico. No Príncipe existe um alojamento, no Norte da ilha, perfeitamente inserido na floresta tropical. É um local de uma beleza inacreditável. Fusão de mar e floresta, fauna, botânica. A natureza no seu estado puro e quase intocado. Não deve haver muitos locais assim no mundo.

Por algum motivo, um milionário sul-africano está a investir naquela ilha, tentando criar um turismo sustentado, ecológico, de altíssima qualidade. Alguns dos responsáveis locais por este projecto são jovens emigrantes portugueses, altamente qualificados, “expulsos” do seu próprio país. Não é um alojamento de massas nem acolhe hordas de turistas. É sossegado, calmo, com pouca gente, o paraíso na terra. Janta-se junto ao mar, dorme-se na floresta tropical.

A noite é escura, a iluminação é substituída pelo silêncio da natureza, por vezes perturbado pelos ruídos das ondas ou dos animais. O que mais impressiona é olhar para o céu que se sobrepõe à noite escura.

O céu é diferente de todos os céus que tínhamos visto até então. A abóbada celeste presenteia-nos com milhares de estrelas, incontáveis. Olhando para o alto deparamo-nos com uma infinidade de estrelas, um céu estrelado nunca visto, que não está condicionado pelas luzes na Terra nem pela poluição que não existe, nem atmosférica nem visual.

A ilha do Príncipe está às escuras, no meio do oceano, o céu apresenta-se-nos no seu máximo esplendor. Inacreditável. O número de estrelas é incomensuravelmente superior ao que se observa nos outros locais do planeta. São milhares de pontinhos luminosos que nos observam. Só os primeiros hominídeos, na Pré-História, e eventualmente os antigos egípcios, deveriam ter observado um céu assim tão brilhante.

Outro motivo de espanto foi constatarmos a quantidade de roças de cacau e de café que os portugueses conseguiram implementar e desenvolver ao longo do tempo. O café foi introduzido em 1787 e o cacau em 1821. Até 1975, funcionaram dezenas e dezenas de roças, enormes quintas produtivas, com caminho de ferro, hospitais, avenidas, casas coloniais, garagens, bairros dos trabalhadores, fábricas, secadores de cacau, café e cacau que eram exportados para todo o mundo.

São Tomé e Príncipe chegou a ser o maior produtor de cacau do mundo. Igualmente motivo de espanto é o estado de abandono e de ruína absoluta em que se encontra a grande maioria dessas roças. Esperemos que o governo de São Tomé consiga recuperá-las.

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