Fugas - dicas dos leitores

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    Santa Maria, RS PAULO WHITAKER/REUTERS
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    Leonardo Charréu

As 5 coisas de que eu mais gosto em Santa Maria (Brasil)

Por Leonardo Charréu

Leonardo Charréu, 50 anos, professor no Departamento de Artes Visuais na Universidade Federal de Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brasil.

1.
O campus
O campus da universidade onde trabalho, sendo a primeira universidade pública a ser construída no interior do Brasil (1960), é elogiado por todos os que a visitam. Vou a pé para o trabalho. O meu único luxo. A universidade situa-se no bairro do Camobi, palavra de origem indígena (guarani) que quer dizer “seios de moça!”, localizado a cerca de dez quilómetros do centro desta cidade que fica bem no coração do Estado do Rio Grande do Sul, o mais meridional do Brasil. Foi desenhado segundo o modelo anglo-saxónico. Os departamentos estão isolados por grandes áreas verdes e arborizadas. A universidade esforça-se por cuidar do espaço que, recentemente, recebeu uma funcional ciclovia que une todas as áreas do vasto campus (cerca de 1800 hectares, estando apenas 200 urbanizados). Cerca de 40 das mais de 250 espécies de aves foram recentemente desenhadas pelos meus alunos e estão temporariamente expostas no Palácio da Falcoaria em Salvaterra de Magos (7-27 de fevereiro).

2.
A viação férrea

A cidade conheceu um surto de desenvolvimento com a chegada, em 1884, do caminho-de- ferro, que marcou uma época na cidade. Lembra o Entroncamento, do meu Ribatejo natal. Não é de admirar que a vila belga, bairro ferroviário, construído no inicio do século XIX, seja considerado o “bairro histórico” da cidade. Apesar da estação de caminho-de-ferro estar hoje uma triste ruína, é muito agradável passear ao fim da tarde pelas ruas empedradas deste bairro de casas térreas e pintadas com cores diversas e garridas.

3.
O chimarrão

É um dos elementos mais característicos da cultura gaúcha. Um chá de erva-mate que toda a gente toma, sem açúcar, várias vezes e a todas as horas do dia. Requer um ritual bem especial na preparação do chá de origem indígena (guarani) que tem que ser feito dentro de uma cuia (um recipiente feito a partir de uma cabaça) e é sugado por uma bomba de metal, um pequeno tubo com uma ponta espalmada e furada, para não se sugar a própria erva, que é introduzida na cuia. O interessante do ritual é a partilha social. Pois a cuia, e o termo com água quente, normalmente, passam de pessoa para pessoa. É considerado de boa educação oferecer o chimarrão a quem está. Mesmo com o surto de gripe, no Inverno, toda a gente chupa descontraidamente pelo mesmo sítio...eu vou experimentando, aos poucos!

4.
A quarta colónia

A colonização europeia foi bastante forte, sobretudo de polacos, alemães e italianos. A última grande leva imigratória ocorreu no ultimo quartel do século XIX. Vale a pena um passeio pela região (que foi a quarta a ser colonizada) polvilhada de cidadezinhas, bem limpas e arrumadas, que costumam ostentar, quase todas, na praça central, pequenos memoriais, em bronze, com os nomes e os apelidos dos primeiros “colonizadores” europeus: Pegoraros, Zaninis, Freislebens, Dolinskis, que são os apelidos dos meus alunos. Passadas quatro gerações, a miscigenação da população continua.

5.
A gastronomia

Quem gosta de carnes vermelhas, em particular de bovinos, em Santa Maria está no paraíso. A carne é de pastagem e absolutamente divinal. A técnica de corte e o modo de assar fazem o resto. O churrasco gaúcho com carnes nativas é inesquecível. Há quem ache o Bovinus a melhor churrascaria da cidade (tem cá uma picanha...). Mas há também outras opções: o Las Leñas, mais refinado na apresentação das comidas, o Bom Boi, com um rodízio interminável de carnes... à discrição. Nestes lugares, só senti a falta de um bom tinto português! Para desenjoar, também chega aqui um bacalhau, importado do Porto. Graças a Deus!

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