Fugas - dicas dos leitores

Em Dublin

Por Miguel Silva Machado (texto e foto)

Um passeio breve à descoberta da capital irlandesa.

Junto ao obrigatório The Temple Bar, na “baixa” de Dublin, bem antes deste ex-líbris da capital irlandesa abrir a curiosos de todo o mundo — pense o leitor no ambiente dos Pastéis de Belém, em Lisboa, reduza o espaço e troque-os por cerveja — durante um substancial pequeno almoço no Brick Alley Café: 

- Crise aqui? Queixam-se muito, mas se comparassem com a nossa estavam era caladinhos!

A simpática funcionária, há quatro anos na capital irlandesa, não tem dúvidas no que diz. A pronúncia do “puerto” só se nota quando fala connosco, no inglês com que atende outros nada a denuncia. Está para ficar, tão depressa não regressa.

- Ganhar como aqui? Lá é impossível!

- Boa estadia. Olhe, a minha filha está em Londres. Sinais dos tempos.

No centro de Dublin a crise só de espaço, tal é movimento nas principais ruas de compras, como a Grafton Street, ou o tempo de espera para arranjar um lugar no obrigatório Bewley’s e beber um chá. Ainda assim, na saída da exposição sobre a batalha de Clontarf (1140) no National Museum, passa um homem de semblante carregado, colete com letras garrafais informam “Lisbon Treaty Almost Cost Me My Life”.

A noite fria aproxima-se e cobertores mexem-se nos alpendres mais sombrios de edifícios monumentais. Aqui e ali um isqueiro denuncia a chaga que teima em resistir a todas as perseguições. Frente ao Banco da Irlanda, iluminado com as cores nacionais, na Books Upstairs, à moda antiga atafulhada de livros, há Pessoa e Saramago, o dono prefere “de longe” o primeiro.

O imponente museu da Guiness é um belo exemplo de adaptação museológica das antigas instalações industriais, mas também de como se rentabiliza o espaço com o preço na entrada e uma irresistível loja de gifts. Finalmente — subir escadas faz sede — uma caneca no Gravity Bar (incluída na entrada, vá lá!), paredes de vidro para toda a cidade. Pela vista, apetece ir ficando e repetir...a Guiness.

De regresso ao centro, a Catedral de Saint Patrick, religião, claro, mas muita história, mesmo que os guias distribuídos refiram que “não é um museu”. Nas naves laterais e nos transeptos abundam estátuas, placas e memórias de figuras da igreja mas também da ciência, da política e militares. Uma capela é inteiramente dedicada ao esforço dos irlandeses que serviram de armas na mão o império britânico — com bandeiras originais dos seus regimentos — e um memorial em bronze, “Lives Remembered”, convida os visitantes a escrever para os caídos nos campos de batalha, ao lado de exposição sobre a 1.ª Guerra Mundial.

No The Times Hostel, ao lado do Trinity College, o staff vai variando pelos turnos e pela simpatia, mas todos eficientes. A hora de recolher, com o pub no rés-do-chão, é um bocado para o tarde. Nada de dramático. O ambiente é calmo e a cozinha/sala refeições bem equipada.

Não houve tempo para mais, rumo ao aeroporto, o competente serviço Aer Lingus lá nos trouxe de volta. Terei que voltar, Dublin tem muito mais para ver.

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