Fugas - dicas dos leitores

Parque de los Desvelados, sólo se vive una vez

Por Viagens da Babi

Navarra talvez não seja o primeiro destino pensado pelos portugueses quando consideram Espanha como destino de férias. Talvez também não fosse o meu, caso não tivesse uma amiga de Pamplona.

Euskal Herria (País Basco, em basco) ultrapassa a fronteira espanhola e apanha território francês. A influência da cordilheira dos Pirenéus molda a paisagem com relevos surpreendentes, que de comboio são contornados por túneis escuros.

É uma viagem que, de Lisboa, é sempre feita de madrugada. Passa por Salamanca, Burgos, entre outras cidades sonantes, mas as vistas só se podem apreciar já em território basco pela manhã. As montanhas que rodeiam as aldeias floridas nos vales adquirem diferentes tonalidades ao longo do ano e caracterizam o espaço envolvente.

Navarra é plena de locais místicos. Refiro dois. O primeiro: La Cueva de Zagarramurdi, que em 2013 deu origem a um filme baseado na lenda das bruxas que, supostamente, ali viveram. Mas vou debruçar-me sobre o segundo, que é bastante desconhecido até para muitos espanhóis e que pouco vem nos roteiros turísticos. Ainda que seja avaliado no Tripadvisor, não é reconhecido pelas autoridades locais e nacionais do turismo espanhol.

Falo do Parque de Los Desvelados (ou Las Calaveras) em Estella, perto de Pamplona. Começou a ser feito nos anos 1970 por Luís Garcia Vidal, nascido em Melilla e que, após trabalhar como artista no Brasil e pintor de rua em Paris, encontrou em Estella o local para as suas manifestações artísticas mais profundas. Após um grave acidente de automóvel que levou o seu irmão, começou a ter um fascínio sobre a morte e com a sua constante presença na frágil dimensão humana.

Começou por erguer caveiras feitas por ele com materiais na própria natureza, pinturas e redes. No local, chegou a estar a caveira maior da Europa, hoje em ruínas. A elas juntaram-se elementos como automóveis acidentados, até mesmo um carrinho de bebé que se diz ter sido abalroado por um carro, transmitindo-se a ideia da morte violenta e da efemeridade da vida. O cenário é mórbido e fascinante, numa evocação da morte e, sobretudo, da morte súbita e violenta à qual todos nos sujeitamos todos os dias.

Caveira é o que todos somos por dentro, dizia Luís Vidal em entrevista, e o que todos um dia nos tornaremos. O seu objectivo era ter morte visível, relembrando aos vivos que a vida é curta. “Quiero expresar unas calaveras que gritan y advierten a los vivos como diciéndoles: ‘Portaos bien, que sólo se vive una vez’ ¡Hay que aprovechar la vida!”

Eu visitei o Parque de los Desvelados no Verão de 2014. Já poucas caveiras se vêm e as que restam parecem ter nascido ali, espreitando entre os arbustos, vindas da própria terra, a qual agora as está a consumir.

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