Depois, carregar as bagagens foi a maior “bagunça”. Impressionante, em busca de um punhado de reais, a quantidade de “moleques” querendo carregar as nossas malas para tudo o quanto era sítio. Claro que Pablo e Andrés, os nossos guias, trataram logo ali de “maneirar” a situação. Pessoas e malas tudo para dentro da “kombi” da Terra Brasil. O que é uma “kombi”? É aquele furgão da Volkswagen tipo “pão-de-forma”. Chegados ao cais de embarque, para pegar a “balsa” para atravessar o rio, nova espera até o funcionário da bilheteira, sei lá, acabar o seu milk shake para nos atender. A travessia do Buranhém em balsa, pequeno ferry típico onde viajam carros, motas, animais, pessoas, vendendo pé-de-moleque, foi das melhores belezas naturais nocturnas que eu vi no Brasil. Atravessar de noite um rio às escuras, só com umas luzinhas pequeninas da balsa, com um céu limpo e estrelado como pano de fundo, ao som do “forró”, foi, digamos, um dos porquês de termos vindo ao Brasil. Ainda nos cruzámos a meio do rio com outra balsa que trazia gente local, animais e, pasme-se!, duas ou três camas de rede onde dormitavam, sei lá, dois “jagunços”?
Chegados a Arraial d’Ajuda, é tempo de seguirmos viagem até ao local onde ficaremos alojados em terras de Vera Cruz: a Pousada dos Coqueiros, localizada estrategicamente dentro da vila de Arraial d’Ajuda, ali no número 55 da Alameda dos Flamboyants. Muito perto, como mais tarde constataríamos, da famosa rua “Broduei” e a 300 metros da praia. O check-in foi feito rapidamente. O pior foi dona Letícia dizer que já não havia jantar porque já nem contavam connosco a esta hora da noite. Mas tudo se arranja, como dizia o Paulo. A caminho do nosso bungalow-apartamento pudemos constatar o ambiente envolvente da pousada: localizado no meio da Mata Atlântica, em ambiente decorado naturalmente, tranquilo, confortável, em jardins exuberantes e com a tradicional e mundialmente famosa descontração baiana: sorria, você está na Bahia.
Depois das malas desfeitas, o Paulo lá nos sugere irmos à vila manjar alguma coisa. A fominha é mais que muita. O quê? Uma feijoada à brasileira, pois claro. Então era o quê? Sardinha assada? Pois, foi isso e um peixe frito, tão frito, tão frito que até as espinhas, ressequidas, eu e o Paulo comemos. Tal era a fome. O “pintado” (nome do peixe) foi frito em “óleo de dendê”, dizia o moço que nos atendeu, daí estar “maneiro pá comer”. Era o que havia. A Ana, a Andreia, a Paula e o João viraram-se para o tradicional bife com batatas fritas. Também era o que havia. Pois. Duas cervejas Kaiser de 600ml, bem “geladinhas” depois, e toca de voltar para a pousada. Duas e tal da manhã. Quase um dia sem dormir, na minha idade, só pode dar rabujice. Isso e o maldito forró, que não se calou em toda a noite. Parece até festa de “peão”. Às tantas até parece que dou por mim a adormecer a som de País Tropical de Jorge Ben: “Moro, num país tropical, abençoado por Deus/E bonito por natureza, mas que beleza/Em Fevereiro (em Fevereiro)/Tem Carnaval (tem Carnaval)/Tenho um fusca e um violão/Sou flamengo/Tenho uma nêga/Chamada Tereza”.