Espreguiça-se a vila por um jardim contemporâneo, já não se usam árvores nestes espaços, só relvas e patamares de pedraria e canteiros rasos com arbustos. À noite, deserta de seres de qualquer espécie — descontando os cães vagabundos que cumprem penas de outras vidas —, luzes modernamente estudadas nos candeeiros de pé alto criam o ambiente que ninguém vê.
A feira da castanha na sua capital é uma festa. No pavilhão das actividades económicas apresentam-se os stands sérios: as instituições, os produtores, os comeres. À porta do pavilhão estacionam as “forças vivas” da região, no ponto estratégico onde se vê quem vem, quem falta, se cumprimenta e se ganham fichas de simpatia, se passam recadinhos com ditos mais ou menos sinceros. Cá fora, no jardim, os feirantes profissionais de tenda montada oferecem o que é de costume: as trusses, as meias, os fatos de treino, as camisolas com estampados de tigresas e outros felinos. Farturas é com fartura, não se resiste ao trocadilho, tanta oferta num espaço tão curto de gente.
A Castmonte (assim se chama esta feira) celebra o tesouro da região, e é a oportunidade (voltamos ao princípio da conversa) de a terra aparecer no mapa das terras que ainda não feneceram. A televisão do Estado marcou presença, programa de domingo, com as pimbalhices habituais e as ofertas de dinheiro e carros, pagos e bem pagos nas chamadas, ingénuas e às carradas, dos espectadores ávidos de virem a ser os felizes proprietários de uma viatura para a qual não têm dinheiro para a gasolina, a manutenção, o imposto de circulação e o seguro.
Não há dúvida que Carrazedo de Montenegro é a capital da castanha, que a melhor é a Judia, mas se o cliente quiser e for conhecedor também pode levar a Longal, a Lada, ou mesmo a Cota, nomes que se aprendem e são bons nomes.
O concelho não tem ainda uma oferta turística diversificada. Umas poucas unidades de turismo rural e residenciais paradas num tempo próprio: desde o dia em que abriram portas. Aos poderes autárquicos, em esforço de criatividade, cabe-lhes divulgar e trazer turistas, a tal diplomacia económica. É um trabalho que pede ideias fortes, bem ilustradas, que atraiam e cativem as pessoas. Bons argumentos que façam os turistas escolherem esta terra em vez de outra.
Nós, chegados a gente de cá, voltamos amiúde, e pelas noites, sentados no mesmo escano do início desta crónica, crepitamos as castanhas na lareira, alouramos as pinheiras (cogumelos selvagens) com sal e uma pitada de azeite, cozinhadas na brasa. O vinho, é denso, escuro, saboroso e telúrico.
Houvesse hospitais e boas escolas e era na terra da castanha que ficávamos, a ganhar cores e enrijar as energias, que na grande cidade só se ganham arrelias e catarros.