Como diz o ditado, circular é viver. Tentando fazer jus à expressão, sempre que pode, esta família escapa-se nas férias para longe da “tugalândia”, até para manutenção da respectiva sanidade mental, pois nada como fugir alguns dias do país para readquirir o sentido das coisas...
Para tal, os Balcãs são um local adequado: preços em conta (ainda), língua, hábitos e culturas muito diversas, e um turismo ainda não massificado, a dar os primeiros passos após os conflitos recentes, tornam aquela região muito apelativa.
Desta feita, o itinerário apontou para a Sérvia e a Macedónia, conhecidas que estão, de outras andanças, a Croácia, a Eslovénia e a Bósnia Herzegovina. Ficam em falta a Albânia e o Kosovo, talvez para o ano…
Planeada com o prazer da viagem anunciada, ficou definido o essencial a ver, durante as curtas duas semanas disponíveis: as grandes cidades e a região dos lagos da Macedónia. Cultura, gastronomia e alguns banhos, eis o que queríamos…
De Lisboa a Belgrado a escolha só podia ser a via aérea, sendo mil euros o orçamentado para três passeantes, ida e volta. Foi o que se fez, com escala em Munique.
Aterrados em Belgrado, toca a arranjar “quatro rodas” para passear à vontade (orçamentados cerca de trezentos euros para o aluguer). Infelizmente, o preço mais baixo implicou um minúsculo automóvel, onde as nossas malas mal cabiam... antes o
Zastava da foto, saudosa imitação de um Fiat 1500, na década de 70 do século passado, e que fazia as delícias da família e... da oficina.
O trajecto decorreu sem sobressaltos, num total de cerca de 2500
quilómetros, entre muitos Zastavas, Yugos, tartarugas, cortejos nupciais e emigrantes (os meses de Julho e Agosto são o período do ano em que os emigrantes – e são muitos - voltam aos Balcãs, os jovens para casar, em festanças de três dias), muito calor e poucas ou nenhumas indicações em alfabeto latino…
As estradas são em geral bastante boas e com pouco movimento o que, para quem conhece as congestionadas estradas alemãs, italianas ou francesas, é uma boa surpresa. Na altura da viagem já era visível algum movimento de refugiados pela rota dos Balcãs, mas nada ainda do que viria a suceder desde Agosto de 2015.
Não há desculpa para não saborear o que os Balcãs têm para oferecer ao nível gastronómico, e sem preços astronómicos! Como tudo o mais naquela parte da Europa, as influências e os sabores são vários! Turcos, gregos, austríacos, húngaros, italianos, albaneses, sérvios, parece que todos os povos da região nos querem conquistar pelo estômago, e de preferência na rua ou à beira-rio...e a qualquer hora.
A capital da Sérvia, Blegrado, é uma cidade que impressiona pelos prédios colossais e que não contribuem muito para a embelezar … ainda que os rios Danúbio e Sava amenizem bastante o ambiente. Herança do período comunista da Jugoslávia, ali se edificaram construções únicas, agora a maioria em estado de degradação.
Novisad, a segunda cidade Sérvia, dista pouco mais de 50 quilómetros de Belgrado, sendo local de visita relativamente fácil para quem visite a capital. Igualmente junto ao Danúbio, é das margens deste imenso rio que partem as principais ruas, nomeadamente a principal rua pedonal. A merecer visita é a cidade de Karlovci, pelo bonito conjunto arquitectónico, na praça central da cidade.
Nis, a terceira cidade Sérvia, localizada no Sul, a cerca de 200 quilómetros de Belgrado, é um local onde confluem as vias de ligação para a Macedónia, para o Kosovo e para a Bulgária (antiga rota de Salónica), e com um passado que remonta ao Império Romano. Com ambiente mais despreocupado que Belgrado, é de visitar a parte antiga (forte) e, para quem aprecie, um antigo campo de concentração nazi, curiosamente então apelidado de campo da “Cruz Vermelha”.
Skopje, a capital da Macedónia, é uma cidade em dinâmica transformação, capital de um país com pouco mais de 20 anos. A par de uma zona antiga, de origem e tradição otomana, com mesquitas e muitos comércios tradicionais, mas algo votada ao esquecimento, coexiste uma cidade moderna, com muitos edifícios – nomeadamente governamentais - novos ou ainda em construção, a imitar a arquitectura clássica, nem sempre com o melhor dos efeitos, devidamente separadas pelo rio Vardar.
Nestas coisas das férias, nada como deixar o melhor para o fim.
Foi o que calhou acontecer, primeiro com os dias passados em Ohrid e no lago do mesmo nome, e depois com a cidade de Bitola, já junto à Grécia e Albânia.
No lago Ohrid, um dos maiores da Europa, satisfizemos o desejo de praia, embora com água doce, claro está, mas bastante quente, o que nos surpreendeu, uma vez que se trata de um lago cuja profundidade pode chegar aos 300 metros, além de que está localizado a cerca de 600 metros de altitude.
A cidade de Ohrid é a mais visitada de toda a Macedónia, o que significa que, embora com muitos pontos de interesse, chega a ser cansativa...principalmente após o escurecer, em que milhares de pessoas procuram os restaurantes e bares junto à beira lago, para bombar toda a noite… enfim, uma espécie de Albufeira, à la Makedonian!
Já em Bitola, valeu a pena a visita às ruínas da cidade romana de Heraclea, e desfrutar de um conjunto de mosaicos que faz corar de vergonha alguns da própria Roma… sem um único visitante a não sermos nós!
Tudo o que é bom acaba depressa, e as férias assim passam a correr, ainda para mais numa região onde se sente literalmente o pulsar da história europeia. Na hora do regresso ainda fomos tentados a seguir a estrada de Salónica, mais uma semaninha só, Meteora ali tão perto ….mas o trabalho já aguardava, fica para o ano!