Fugas - dicas dos leitores

Lago Bled

Lago Bled

A (quase) desconhecida Eslovénia

Por Alfredo Magalhães (texto e foto)

A Eslovénia não aparece muito nas opções de turismo ou de viagens de lazer dos portugueses, apesar de o turismo ser uma das principais fontes de receita do país.

Para isso contribui o facto de estar encaixada em plenos Alpes ditos Julianos e a consequente procura dos desportos de Inverno. Mas, para além desta vertente que, especialmente, não me seduz, a Eslovénia tem outros encantos.

Fizemos a viagem em finais de Outubro e tivemos a felicidade, nos quase 15 dias de estadia, de só ter chovido um dia. Nos outros, o sol brilhou e evidenciou de forma inebriante todo o matiz de cores de Outono dos bosques e florestas.

A Eslovénia é um dos retalhos em que se dividiu a antiga Jugoslávia, mas também a mais pacífica e por isso a primeira que aderiu à União Europeia e a única que adoptou o euro como moeda. Fez parte do império romano, havendo algumas ruínas pouco significantes em algumas cidades, incluindo a capital, Ljubljana. Mas nos últimos seis séculos pertenceu à monarquia austríaca dos Habsburgos e depois ao império austríaco. Isso é evidente na arquitectura das grandes cidades como Maribor, Ljubljana, Ptuj ou Celje. Na capital existe mesmo um lindíssimo exemplar do estilo de arquitectura vienense Secessão, o Palácio dos Congressos. A cidade com mais monumentos antigos é Celje, que foi um condado e principado autónomo, mesmo durante o domínio austríaco.

Nascido no meio de serranias, fico sempre extasiado com paisagens de montanha. E nisso a Eslovénia é pródiga. Mas aqui a paisagem alpina diverge bastante das suas congéneres suíça, francesa ou italiana. Aproxima-se mais do tipo de paisagem austríaca, mas com a sua especificidade, nomeadamente os vales largos e as construções e organização das aldeias de características próprias.

O vale mais famoso é o vale de Logarska. De Inverno têm muita procura as diversas estâncias de esqui. No resto do ano é a paisagem que encanta — um vale largo, de um verde intenso, ondeado por pequenos cabeços, e no horizonte o perfil altaneiro das montanhas salpicadas de neve. Neste vale nasce um dos principais rios do país — o Savinja. Fomos admirar uma das suas nascentes: uma enorme cascata de mais de 90m de altura. Cruzámos diversas vezes em diferentes sítios este rio, sempre de águas transparentes e rápidas, aqui e ali com grupos de pescadores. Também nos encantou o lago Bohinj, rodeado de bosques matizados com as gloriosas cores outonais espelhados naquelas águas onde nasce o rio Sava.

Mas o lugar mais emblemático é o lago Bled. É um lago glaciar, rodeado de montanhas de cumes nevados. Numa das margens, no alto de uma falésia, fica um castelo medieval. No meio do lago, uma pequena ilha arborizada e nessa ilha uma igreja com um alto e pontiagudo campanário branco. Um autêntico postal ilustrado. Por isso, fora do Inverno, é dos pontos mais procurados e mais visitados.

A capital é uma cidade pequena mas vibrante de vida. Do alto da colina do castelo consegue ver-se todo o centro histórico. Não tem monumentos muito marcantes, mas muito do seu encanto advém da sua animação. É atravessada pelo rio Ljubljanica, afluente do Sava, que por sua vez vai juntar as suas águas ao Danúbio em Belgrado. E parece que toda a vida de Ljubljana se resume ao rio. Junto das suas margens são muitas as esplanadas, a maior parte delas entre a tríplice ponte e a ponte dos dragões, e onde, de copo na mão, se pode assistir ao despontar das luzes da noite ou admirar os amantes de desportos radicais, vogando rio abaixo.

Uma coisa nos chamou a atenção: a impecável limpeza do chão junto às mesas, nem um papel, nem uma beata. Também nos impressionou a simpatia e o bom humor dos eslovenos. Nisso discordamos radicalmente dos autores de um blogue de viagens premiado, que estiveram dois dias e meio na Eslovénia e acharam os locais mal-encarados e mal dispostos.

Nós percorremos quase todo o país em duas semanas e concluímos o contrário. O episódio mais marcante foi na encantadora cidade de Piran, no Adriático. Só os locais entram de carro no centro histórico. Os outros deverão deixar a viatura num dos vários parques à entrada com preço/hora de 3€. Demorámos mais que o esperado e não tínhamos dinheiro suficiente, quisemos pagar com cartão bancário, o que não foi aceite. Com ar bem-disposto, o funcionário perguntou quanto dinheiro tínhamos: 6€, metade do exigido. Foi anulado o primeiro recibo e dado um segundo de 6€ e o funcionário ainda nos desejou boa viagem com um enorme sorriso.

O vinho é dos elementos mais marcantes da cultura eslovena. Gabam-se mesmo de ter (em Maribor) a videira mais antiga do mundo. Há por todo o lado pequenas tabernas, concursos de vinho ou casas especializadas. Muitas aldeias são rodeadas de verdejantes vinhedos e é difícil encontrar uma casa que não tenha uma ramada, nem que seja para simples decoração. Talvez tenha origem no vinho o carácter bem-disposto dos eslovenos. Lá diziam os romanos: “O vinho alegra o coração dos homens e ao das mulheres não desagrada…”.

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