Deambulando pela cidade perdida de Angkor, observam-se os arcaicos templos hinduístas e budistas a serem devorados por enormes árvores, autorizadas pelos deuses no seu regresso a casa. Muros derrubados, templos quebrados, casas esventradas por gigantescas raízes, imparáveis no seu progresso, alimentadas pelas chuvas tropicais e diluviais. Ruínas por toda a parte, muitos templos e habitações já só ostentam algumas últimas pedras que aguardam o derrube final. A derrota misericordiosa, ao fim de tantos séculos de luta. Janelas e portas bloqueadas por imponentes raízes, num abraço mortal que antecede o inevitável desmoronamento.
As ruínas de Angkor deslumbram e fascinam. Do alto de muitas torres, gigantescas faces de pedra, eventualmente representativas de Buda, miram o avanço da floresta perante a impotência da extraordinária arquitectura. Sem uma nova intervenção humana, será uma questão de tempo até a natureza recuperar, totalmente, o que lhe foi sonegado, reduzindo à insignificância uma importante e milenar civilização asiática.
Assim se constata, mais uma vez, a perenidade da efémera condição humana perante a natureza intemporal. Nem os deuses de Angkor conseguiram evitar que a frágil e fugaz humanidade sucumbisse perante a natureza eterna. A vida humana é tão breve e passageira que nem se dá conta da sua insignificância perante as leis do universo.
As enormes e serenas caras de pedra, esculpidas nas inúmeras torres que ainda sobrevivem a este holocausto, apesar de mudas, parecem querer transmitir-nos todos estes ensinamentos acerca da intrincada condição humana, em permanente e por vezes obscuro processo de aprendizagem. No Camboja ou em qualquer outra parte do mundo.