Fugas - dicas dos leitores

Ponte da Barca, sempre formosa e contente

Por Patrícia Campos

“Ponte da Barca, Sempre formosa e contente! É tanta a graça, Que cativa toda a gente!” O hino não se pode adequar melhor a esta nobre vila.

Há vários anos que tenho um enamoramento com esta traquina e vibrante vila minhota. Em época festiva ao Santo Bartolomeu, rumo a casa da Ângela e do Sérgio para festejar o arraial minhoto até o sol raiar.

Em pleno centro da vila bato à porta do hostel Magalhães. O navegador Fernão Magalhães terá nascido por estas terras mas só ficou conhecido pelas suas viagens heróicas em alto mar. É aqui que inicio a minha viagem pelo arraial minhoto com o abraço forte à Ângela e ao Sérgio, que têm este espaço reinventado por eles com a ajuda dos amigos. São eles os responsáveis desta minha paixão por Ponte da Barca, e como sempre é com eles que viajo pela romaria.

Foi no Cantinho do Parada - Memórias de Mãe, onde precisamente nasceu o hino desta vila, que nos sentámos para saciar o apetite com os tradicionais pratos minhotos. Na esplanada do largo os amigos vão chegando e até os próprios donos e empregados deste espaço são amigos dos meus amigos. É como sentarmo-nos em casa e saciarmos a saudade com uma bela posta de carne barrosã ou uns belos lombos de bacalhau acompanhados de cebolada, batatinhas fritas às rodelas e um legumes refogados, à maneira do Gil. No pequeno largo, um estendal de lenços minhotos azuis, amarelos e vermelhos decoram as casas, e por elas vão saindo as famílias com as tradicionais camisas azuis e vermelhas para começar a romaria.

Saímos deste largo pacato e familiar, descemos uma pequena escadaria entre casas pequenas e logo a música já dança no Largo da Urca. Ao centro, um grupo de concertinas com rapazes jovens e homens de bigode tocam com ritmo e muita seriedade as tradicionais músicas minhotas. Ao seu redor, os casais vão-se juntando para dançar a chula, o malhão, a cana verde e tantas outras. Os homens com castanholas em punho e olhar sério sem um esboço de sorriso. As mulheres de saias rodadas, outras com lenços coloridos à cintura. Pensava eu que a dança seria um espaço de partilha, de sorrisos e de alegria estampada no rosto. Mas aqui, cuidado, quando entramos na roda precisamos de saber dançar, caso contrário saímos bem calcados ou empurrados com afifes mal-humorados. E roda que roda, é dança até o sol raiar.

Na avenida principal, as famílias, gente pequena e graúda, vão parando aqui e acolá, cumprimentando as gentes da terra vindas de França, da Suíça, da capital e outras cidades. Todos marcam ponto em Agosto na festa de São Bartolomeu. O Verão e a saudade fazem as conversas em plena rua. “Olha o teu João, que grande ‘tá o rapaz!” “Ó Maria, que bonita cachopa!” “O meu Manel está na França. chega amanhã.”

E por ali fora as barracas de doces, presuntos e chouriços perfilam-se com as cores dos arcos luminosos com fotografias dos trajes tradicionais minhotos. Caminha-se em jeito de romaria brindando com os amigos junto à ponte romana a olhar o rio Lima, depois percorre-se o jardim dos poetas até ao mítico Belião. Um pé de dança aqui e outro acolá. Os miúdos, quando o sono aperta, vão para casa ao colo com a pestana a fechar. Depois disso, os pais seguem à segunda ronda da festa até de manhã no Café Central. “Apita o comboio”, “Ai, ai burrito”, “Eu tenho dois amores”, a música pimba toma conta da avenida principal. Toda a gente baila, canta e brinda. E até o carro do padeiro que começa a circular tem paragem obrigatória aqui. Conta a Ângela que, um certo dia de romaria, o primeiro autocarro da manhã aqui teve de parar e toda a malta apitou o comboio dentro do autocarro. No Café Central, já com os pés a colar ao chão, ao balcão ainda se servem uns pregos bem saborosos, e só assim se aguenta toda a noite entre jovens e velhotes a bailar até o sol raiar.

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