Fugas - dicas dos leitores

Luís Maio

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O estranho Turquemenistão

Mas a história mais engraçada é sobre o livro que escreveu Rukhnama, O Livro da Alma, uma espécie de novo Corão, onde estão plasmados os valores e conduta a seguir, de leitura obrigatória na escola, e que, diz a lenda, foi enviado para o espaço com a ajuda dos russos.

No dia seguinte, após mais um passeio pela bizarra Achkabad, começámos a nossa viagem rumo a Darvaza. Não sem antes termos uma peripécia. O táxi em que seguíamos eu, o Thomas e o Bill deixou-nos na estação de autocarros, em vez de nos deixar na estação de táxis compartilhados e não só perdemos mais de uma hora a localizar a estação correcta, como nos perdemos do restante grupo; isto sem conseguirmos comunicar entre nós.

A viagem de Achkabad para a aldeia de Darvaza deu para mostrar o verdadeiro país – desértico, pobre. Por exemplo, em Darvaza os únicos locais onde se pode dormir são casas de chá (dorme-se numa espécie de colchão enrolado) e a casa de banho é um buraco a uns bons 20 metros da casa.

Voltando à história. Quando chegámos a Darvaza, parámos no primeiro café. Não estávamos lá há cinco minutos quando vimos passar, em sentido contrário, o táxi com o restante grupo. Dissemos ao taxista para os seguir e o grupo juntou-se novamente.

Para se chegar à cratera de gás de Darvaza, também conhecida de Porta para o Inferno, é necessário andar duas horas a pé pelo deserto de Karakum. O passeio em si já era espectacular, e chegar de noite à cratera é simplesmente incrível. A cratera é bem maior do que estava à espera (diâmetro de 69 metros e 30 metros de profundidade) e arde mesmo. E num lugar como este, que até se pode classificar como  perigoso, ao contrário de Achkabad, não há um polícia, um posto de controlo, uma vedação.

A história da cratera já é em si bem uma boa mostra do declínio da URSS. Fui tirar à Wikipedia: “O local foi identificado em 1971 por engenheiros da USRR, pensando que este poderia ser um campo de petróleo. A partir dessa premissa, eles montaram um acampamento com uma plataforma de perfuração para avaliar a quantidade de gás e petróleo disponíveis no local. Como os soviéticos estavam satisfeitos com o sucesso em encontrar esses recursos, eles começaram a armazenar o gás. Porém, durante as escavações foi descoberta uma caverna subterrânea de grande profundidade, repleta de gás tóxico. Num certo momento dos trabalhos, o chão sob a plataforma de perfuração cedeu, abrindo uma grande cratera que engoliu os equipamentos. Nenhuma vida foi perdida no incidente, mas grandes quantidades de gás metano foram lançadas na atmosfera criando enormes problemas ambientais e imenso dano ao povo das aldeias, resultando em algumas mortes.

Temendo a libertação de mais gases nocivos da cratera, os cientistas decidiram queimá-los. Eles consideraram que seria mais seguro queimá-lo do que extraí-lo do subsolo, pois isso exigiria processos caros. Em termos ambientais, a queima do gás é a solução mais coerente quando as circunstâncias são tais que ele não pode ser extraído para uso. O gás metano lançado na atmosfera também é um perigoso gás de efeito de estufa. Naquele tempo, as expectativas eram de que o gás iria queimar por alguns dias, mas ainda está queimando décadas depois de ter sido incendiado. Não há nenhuma previsão de quando as labaredas vão finalmente cessar, já que ninguém tem noção da quantidade de gás que ainda existe nas profundezas da cratera.”

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