Fugas - dicas dos leitores

REUTERS/Mark Blinch

Deslumbramento nas montanhas rochosas do Canadá

Por Manuela Santos

Harmonia é o conceito que, a meu ver, define muito bem o Canadá. Multiculturalismo, sociedade bastante organizada e comunhão perfeita com a natureza que aqui é bastante generosa e nos abraça com todo o seu esplendor.

Um percurso deslumbrante, iniciado em Calgary (Estado de Alberta), para terminar em Vancouver, na costa do Pacífico, veio confirmar a justa relação do canadiano com o meio ambiente. Um percurso marcado a verde pela grandiosidade de dois magníficos parques naturais, o Banff National Park que acolhe o espectacular Lake Louise e, ainda, o Jasper National Park, ambos situados na fronteira do  Estado de British Columbia.

São parques como estes que ilustram muito bem toda a beleza das Montanhas Rochosas do Canadá (Canadian Rockies) e  que, ao atravessá-los, me fizeram saltar memórias da infância de quando viajava através das paisagens de postais ilustrados ou das estampas de caixas de bombons. Admirar os glaciares, os lagos a embelezarem as gigantescas cordilheiras graníticas, florestas verdejantes sem sinais de incêndios ou animais que se deixaram observar pelos viajantes, foi a concretização de um sonho antigo que me deixou completamente emocionada.

Durante todo o nosso percurso fomos, constantemente, surpreendidos por quilométricos comboios que penetravam nas montanhas para logo aparecerem empoleirados em altíssimas pontes, lembrando-nos da presença humana, não fôssemos nós pensar que estávamos no paraíso. A dimensão do campo visual e a imponência da paisagem eram de tal ordem que estes longos comboios pareciam, simplesmente, brinquedo de criança. Chegámos a pequenos centros urbanos respeitadores dos espaços naturais onde estão inseridos, como foi o caso das localidades de Jasper e de Banff, ambas recheadas de actividades recreativas de montanha, entre elas a possibilidade de fazer trekking para observação de animais selvagens como o famoso urso preto, o caribu ou o alce.

Pelas Montanhas Rochosas, saltámos de um parque natural para outro através de estradas largas e muito bem mantidas, de trânsito soberbamente disciplinado, onde até os trucks de cores garridas e lustrosas pareciam concorrer numa dança caprichosa. Constantemente acompanhados pelas cordilheiras de cumes branqueados pela persistência da neve e ornamentadas de coníferas na sua base, a cada curva da estrada éramos surpreendidos pelas diferentes perspectivas que se sucediam numa sequência fílmica.

Ao nosso redor continuava a dança dos trucks ao som de música tradicional dos Povos das Primeiras Nações, designação politicamente correcta quando os canadianos se referem aos índios. Tínhamos comprado um CD que veio mesmo a propósito ouvir. Completamente embriagados com a paisagem, ainda fomos presenteados com as aparições de ursos mais afoitos que se aproximaram da berma da estrada, alheios ao trânsito que por ela passava, ou então com o retrato de família que um conjunto de alces e suas crias, banhando-se num charco ali tão perto, ofereceram aos viajantes como nós, menos habituados a estas manifestações familiares.

Constantemente, a sinalética indicadora de pontos de interesse convidava-nos a parar. Sempre o fizemos em pequenos parques de estacionamento harmoniosos, rigorosamente limpos, respeitadores do meio ambiente. Neles encontrámos estudantes universitários que estavam em férias, fazendo reparações nos equipamentos públicos. Penetrando pelos trilhos, escutando os ruídos da floresta, chegámos a lugares de cortar a respiração pela provocação de todos os nossos sentidos.

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