Fico a saber também que o solo esponjoso deste pântano impede a decomposição de matéria orgânica, que se acumula numa fofa cama de turfa. O resultado é um reservatório gigantesco de dióxido de carbono, que é aqui mantido num equilíbrio frágil: estima-se que a destruição deste habitat resulte numa libertação de 3000 anos de gás acumulado num espaço temporal inferior a 100 anos, o que demonstra a importância da sua conservação.
As árvores, fetos e folhas mortas que povoam este local são propícios à camuflagem dos seus habitantes, todavia, somos informados que à noite é possível localizar com lanternas o brilho dos olhos das tarântulas, para além de ser mais fácil observar o tímido lémure-voador que sai do seu esconderijo para se alimentar.
Contudo, não temos de esperar tanto tempo: agarrado ao tronco de uma árvore está um exemplar desta espécie, que faz as delícias dos nossos olhos curiosos. “Parece que já viram de tudo, não sei que mais vos hei-de mostrar…”, diz o nosso acompanhante, enquanto tira um pedaço de pão do bolso, que atira para um charco turvo de água alaranjada. De imediato, o naco de comida é abocanhado por um enorme peixe-gato, deixando-nos perplexos.
Parece que a quantidade de surpresas reservadas para nós é interminável, mas o nosso passeio termina com um telefonema de alerta, pois o barco que nos levará de volta à civilização está prestes a partir.
No caminho para o barco detenho-me e recolho um búzio vazio que brilha na areia. Regresso a Portugal, mas trago a concha comigo: no meio da selva urbana toco na sua superfície curvilínea e sou transportada até ao planeta Bako, onde a natureza me inunda novamente os sentidos e a selva me segreda as suas leis de sobrevivência.
Ana Torres escreve em https://escreveromundo.com