Saímos de Lisboa, aterrámos na ilha do Sal e no dia seguinte, após um mergulho nas águas dum mar azul-turquesa, partimos para a ilha de Santiago, a primeira a ser descoberta pelos portugueses e a maior do arquipélago. Da Cidade da Praia, capital do país, saímos em direcção ao Norte, sempre desfrutando de uma paisagem magnífica. Em São Jorge dos Órgãos, parámos no verdejante e colorido Jardim Botânico, seguimos para Assomada e, após passarmos a serra da Malagueta, eis-nos no Tarrafal, antigo campo de concentração de presos políticos da época colonial.
Aqui, nem a bela paisagem da serra afastou a emoção que tomou conta de mim ao bailarem-me na memória lembranças da ditadura, notícias recebidas através de emissoras clandestinas e ouvir dizer “mais um deportado para um local ardente, inóspito e tenebroso”. Visitámos o Museu da Resistência, onde fiz o registo digital de uma maquete da famosa “frigideira”, de onde nem todos os condenados conseguiram sair com vida. Também registei as ruínas da cozinha, da lavandaria e de outras precárias instalações.
Regressámos à capital pelo litoral nordeste, quase sempre por estrada de paralelipípedo, acompanhados pelo mar e por imponentes penhascos. No caminho, tivemos oportunidade de visitar a aldeia de uma comunidade religiosa de Rebelados que se formou a partir de grupos que se revoltaram contra as reformas na liturgia da Igreja Católica, introduzidas nos anos quarenta do século passado, e se isolaram do resto da sociedade, correndo hoje risco de extinção.
No dia seguinte, bem perto do hotel, avistei o Farol D. Maria Pia, vimos o mercado municipal, a estátua de Amílcar Cabral e comprámos livros na Biblioteca Nacional. Seguimos para a Fortaleza de São Filipe da qual nos debruçámos sobre a Cidade Velha (antiga Ribeira Grande) fundada em 1462, a primeira cidade a ser construída pelos portugueses e classificada pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade. Entrámos na rua que nos levou à igreja Nossa Senhora do Rosário que, na época colonial, se encontrava na costa mais ocidental portuguesa. Voltámos à Praça principal para sentirmos junto do Pelourinho, estilo manuelino, a sua história e a dos escravos ali, publicamente, açoitados. Olhei o mar e perguntei-lhe: quantos esqueletos de navios naufragados guardas aqui no teu fundo?
Partimos para a ilha de São Vicente, descoberta por Diogo Gomes em 1462. Por diversas razões, só em 1838 foi fundada a Cidade do Mindelo. Há nesta ilha muito que ver, muito que visitar. Começámos pelo Monte Sossego e aqui reunimo-nos junto das ruínas do quartel onde o Pelotão de Polícia Militar 1153 cumpriu missão em Agosto 1966/68. Junto de um simbólico monumento, prestámos sentida homenagem aos ex-militares já desaparecidos. Seguimos para o Monte Verde e depois de atravessá-lo tivemos uma bela surpresa, a Baía das Gatas, uma enorme piscina natural. Nesta localidade realiza-se anualmente, no primeiro fim-de-semana de lua cheia de Agosto, um festival de música internacionalmente famoso.
De retorno ao Mindelo e deambulando pelas suas ruas, passámos pela Câmara Municipal, pelo monumento ao poeta Luís de Camões, Fortim d’el-Rei e Mercado Municipal. Visitámos a Igreja da Nossa Senhora da Luz e o Museu de Arte Africana, onde me encantei com uma fabulosa colecção adquirida pelo coleccionador Carlos Zé em diversos países africanos. Na Avenida Marginal, subimos ao topo da réplica da nossa Torre de Belém e de seguida entrámos no Centro Nacional de Artesanato. Depois, fomos surpreendidos pelo ex-líbris da cidade, o Monte Cara, cujo recorte faz lembrar um rosto humano olhando o céu.