Fugas - dicas dos leitores

Ana Torres

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Zagreb inesperada

Avio-me de comida num supermercado de produtos naturais e sigo para a parte baixa da cidade, enquanto me delicio com uma sandes de húmus caseiro e rúcula. Atravesso a parte de Zagreb conhecida como “ferradura de Lenuzzi”, caminhando entre jardins, estátuas e fontes. Admiro a arquitectura do Mimara (Museu de Arte) e as influências austríacas do Teatro Nacional Croata. Paro para ouvir uma banda tocar num coreto e, ao observar um grupo de foliões que alegremente tenta mimetizar os passos de dança que estão desenhados no chão, abraço a espontaneidade croata.

Continuo a passear, agora entre os vales de flores do Jardim Botânico, e decido o próximo ponto do meu itinerário ao recordar a conversa que tive na noite anterior com Ana, a recepcionista do hostel: “O Museu das Ilusões é um desafio aos sentidos. Já lá fui duas vezes e surpreendo-me sempre!”. Decido terminar o meu dia a testar as minhas percepções da realidade: observo-me como realmente sou numa superfície onde posso ver a minha imagem reflectida de maneira correcta, cambaleio num quarto inclinado, não consigo decidir se o vaso de Rubin representa uma taça ou duas faces, vejo mil ‘eus’ na sala do infinito, e fico tonta com círculos imóveis que rodam sem parar.

O Museu das Ilusões é, pois, o complemento ideal para uma cidade que teima em abrir os meus olhos para um mundo novo. Regresso ao hostel, com o cheiro da despedida cada vez mais próximo, uma vez que apanharei o autocarro para Zadar no dia seguinte. Na manhã da partida, incitada novamente por Ana, resolvo passar os últimos momentos em Zagreb no sítio que simboliza o final de um ciclo: o Cemitério de Mirogoj.

A minha visita prova-me que não é por acaso que este é considerado um dos ícones da capital da Croácia: aqui descansam alguns dos mais ilustres cidadãos do país, numa morada desenhada por Hermann Bollé no século XIX, de modo a reflectir a arquitectura do centro de Zagreb. A sua beleza incomum não consegue deixar ninguém indiferente, e ainda hoje sorrio ao relembrar a resposta da minha irmã quando lhe enviei fotos das suas arcadas cobertas por trepadeiras, das cúpulas cor de mar, ou das esculturas que tornam este local numa galeria de arte a céu aberto: “Estás a visitar um palácio?”.

Este é um local tranquilo, artístico e surpreendente, tal como a cidade que o alberga. Ao deixar Zagreb, entro no autocarro com o coração repleto de uma vontade de ir mais além, de ultrapassar roteiros turísticos usuais e de abraçar o inesperado. Porque por vezes são os sítios onde não esperamos ir que nos revelam as melhores surpresas.
 

 

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