Sentimos, ao percorrermos aquelas ruas, que estamos de visita a uma das cidades em que vivemos noutra vida. Ao passar junto ao rio Hudson, em frente a Brooklyn, procuramos Woody Allen e Diane Keaton sentados no banco da cena final de Manhattan. No Central Park, de um lado, vemos Dustin Hoffman a empurrar a bicicleta do filho em Kramer vs Kramer e, do outro, a senhora dos pombos a abraçar Macaulay Culkin em Home Alone 2. Olhamos para cima, para o topo do Empire State Building, e vemos Meg Ryan e Tom Hanks em Sleepless in Seattle. Um pouco mais à frente, encontramos Audrey Hepburn a namorar a montra da Tiffany.
Passeamos em Greenwich Village e vemos tantos bares semelhantes ao MacLaren’s, onde os cinco amigos de How I Met Your Mother viveram nove temporadas. Quando nos aproximamos de Staten Island seguimos o olhar sobrevivente de Kate Winslet quando chega ao Novo Mundo, depois do naufrágio do Titanic. E, de entre muitos mais exemplos, não podemos esquecer Carrie, Samantha, Charlotte e Miranda, que se passeiam pelas avenidas nova-iorquinas, pelas galerias e bares em Sex and the City.
Nova Iorque é, através do cinema e da televisão, uma cidade um pouco de toda a gente e percorrê-la a pé torna-a mais nossa. Conseguimos ter uma melhor percepção da sua dimensão e de que, se a quiséssemos descobrir por inteiro, seria preciso uma vida. Por isso, numa semana em Nova Iorque aprende-se o significado da palavra “seleccionar”.
Os museus são, provavelmente, o mais ingrato da cidade. São tantos, tão ricos e completos que, só para o Metropolitan, uma semana não chegaria nem que lá dormíssemos. Porém, com guia ou sem guia, há pontos que são obrigatórios, como a Estátua da Liberdade, a Ponte de Brooklyn, Wall Street ou Central Park. Mas, para qualquer dúvida, não faltam transeuntes prestáveis! É, talvez, dos povos mais simpáticos que já tive o prazer de conhecer.
A comida americana não engana, mas proporciona muitos happy moments. Os pequenos-almoços são o melhor. Os tradicionais diners onde nos servem aquele café aguado, de filtro, que nos aquece nas manhãs mais frias, com a mesma gentileza com que um europeu serve o melhor vinho num copo quase vazio num jantar de gala. Desde panquecas a batatas fritas, vale tudo ao pequeno-almoço, porque o almoço, esse, come-se na rua, encostados a uma roulotte, enquanto as condutas expiram os vapores do metro.
As farmácias são outro caso de estudo. Xanax e Oreo em prateleiras contíguas. É só pegar, pagar e levar!
Mas NY também é uma cidade de desigualdades. No restaurante onde os garçons foram escolhidos a dedo num catálogo de moda, cativando clientela masculina e feminina com sorrisos e charme, ansiando pela obrigatória tip (gorjeta), enquanto o hispânico, visivelmente abatido, recolhe a louça suja. Aqui reina o trabalho à comissão, desde a padaria à papelaria. E depois temos os mole people, os sem abrigo. E de repente, no meio da adrenalina turística, paramos para pensar: é Março, estão quatro graus negativos. Quantos sobreviverão ao Inverno?