Fugas - hotéis

Nelson Garrido

Um jantar com vinhos no luxo do Douro

Por Pedro Garcias

O The Yeatman Hotel & Wine SPA, cinco estrelas que o grupo Fladgate Partnership ergueu na zona alta das caves de Gaia, não irá gerar consenso sobre os seus méritos arquitectónicos. É um projecto pouco moderno no traço e nos materiais, algo "kitsch" até, mas a sua localização é absolutamente assombrosa, oferecendo a mais bela vista do Porto ribeirinho. Sobretudo à noite, quando a cidade se ilumina e a sua silhueta curvilínea, desenhada pelo rio, ganha uma dimensão feérica.
Com uma visão destas, fazer uma refeição no The Yeatman é uma experiência que não pode falhar. E o primeiro teste em que participámos, um jantar com vinhos do produtor duriense Alves de Sousa, deixou muito boas indicações. À frente da cozinha está o jovem e talentoso chefe Ricardo Costa, que os responsáveis da Fladgate (grupo detentor de marcas de vinho do Porto como a Taylor's e a Fonseca) foram buscar à Casa da Calçada, em Amarante (uma estrela Michelin).

Para este jantar, Ricardo Costa fez acompanhar o Gaivosa Branco 2009 com um confitado de choco e atum, o Quinta da Gaivosa Tinto 2005 com Osso Buco "Edição Yeatman", o tinto Abandonado 2007 com o "Boi Abandonado" cozinhado 24 horas com mostarda e ervas e o Vintage Quinta da Gaivosa 2008 com uma "Torta de Abóbora com Queijo da Serra 2009". Tudo muito bom, em especial o confitado e o boi.

Mas, porque se tratava de um jantar vínico, a grande memória que sobrou foi dos dois tintos que se beberam. O Abandonado, "vinho da vinha", de uma vinha velha em concreto, como salientou Tiago Alves de Sousa, o enólogo desta empresa familiar que tem como consultor Anselmo Mendes, é um portento. Ainda a dar os primeiros passos, já encanta pelos seus aromas terrosos e quentes (café, tabaco, chocolate), pela sua profundidade e volume, pela sua complexidade e equilíbrio.

O Quinta da Gaivosa 2005 está prontíssimo a beber, embora ainda tenha mais uma década, no mínimo, pela frente, e é um vinho extraordinário. Lote das melhores parcelas da Gaivosa, todas de vinhas velhas, revela a fruta e a potência tânica que se associam aos vinhos do Douro, e tem complexidade, elegância, vivacidade, raça, frescura. Tudo o que se espera de um grande vinho.

Na Garrafeira Campo de Ourique, por exemplo, custa 29,75 euros, nada de exorbitante comparado com o preço de muitos vinhos nacionais que lhe são inferiores. "Este Gaivosa ombreia com os melhores vinhos que se fazem no mundo", comentava Casimiro Gomes, um dos ex-homens fortes da Dão Sul e agora co-parceiro de Carlos Moura (outro ex-Dão Sul) na distribuidora Lusovini, ambos presentes no jantar.

Como alguém dizia, a atenção mediática dispensada aos Douro Boys tem ofuscado injustamente os vinhos de Alves de Sousa, apesar de não haver naquela região muitos produtores com um percurso tão consistente e tão bem sucedido. Mas a discrição não é uma fatalidade para este produtor que, a brincar, se intitula "Douro men".

O excesso de protagonismo gera cansaço e leva o consumidor a procurar coisas diferentes. E com os vinhos dos Douro Boys, mesmo sendo bons, começa a acontecer um pouco isso. Há mais vida e vinho na região duriense e, na diversidade existente, os topo de gama de Alves de Sousa são sempre um seguro de prazer e de exaltação.

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