Há lugares que ficam tristes quando chove. O Rio de Janeiro, por exemplo, entra em depressão quando a chuva toma o lugar do sol. Mas, a apenas duas horas de carro da cidade mais feliz do mundo, a baía de Angra dos Reis é tão prodigiosa que nem a chuva lhe retira encanto e fascínio.
Mesmo debaixo do maior "toró" (chuva diluviana), é impossível ficar indiferente à beleza do seu rosário insular e ao recorte verdejante da serra do Mar, a cadeia montanhosa revestida por importantes manchas de mata atlântica que se estende ao longo de 1500 quilómetros de costa desde o estado do Espírito Santo até ao estado de Santa Catarina.
Mas não era com chuva que tinha sonhado quando viajei do Rio de Janeiro até Angra para dormir uma noite no Pestana Beach Bungalows, um hotel de cinco estrelas situado no lugar do Retiro, a poucos quilómetros da cidade de Angra dos Reis. Espreitara na Internet umas fotos do hotel e ficara deslumbrado com a beleza tropical do lugar: bungalows surgiam dissimulados por entre a vegetação atlântica, havia um longo deck de madeira entrando mar adentro e viam-se cadeiras pousadas sobre pedras vulcânicas rodeadas de água verde-esmeralda, um cenário perfeito rematado por uma luminosa língua de areia privativa.
Era o postal certo para anunciar o idílio e todos sabemos como as imagens por vezes enganam. Mas, neste caso, as imagens não mentiam. Mesmo chovendo copiosamente, o Pestana Angra justificava todos os adjectivos que imaginara para descrever o lugar. O mar estava surpreendentemente calmo e, apesar de associarmos a ideia de paraíso a um território insular de vegetação luxuriante colocado a salvo das águas do Dilúvio, as ilhas em frente brilhavam sob a chuva. Se era assim com chuva, como seria com sol?
O céu não se abriu para desfazer a dúvida, mas viagens anteriores tinham-me mostrado por que razão Angra, com as suas 365 ilhas e 2000 praias, uma boa parte completamente desertas, é um dos mais fascinantes trechos costeiros do Brasil. Uma viagem pela imensa baía faz-nos recuar aos primórdios do Brasil e ao tempo em que os primeiros exploradores portugueses por lá aportaram, convencidos que estavam a navegar em direcção a uma enseada (angra).Deram-se conta do equívoco já junto à actual cidade de Angra dos Reis, que acabou por receber este nome por nesse dia 6 de Janeiro de 1502 a Igreja Católica celebrar os santos Reis Magos.
Passaram-se desde então mais de 500 anos, mas o lugar continua a ter a mesma beleza original, apesar de já não existirem índios, de haver barcos a cruzar constantemente as águas calmas da baía e de as ilhas terem sido colonizadas por gente rica. Uma viagem entre Angra dos Reis e a ilha Grande, a maior de todas as ilhas da baía, mostramos uma boa parte desse vasto e exclusivo território insular. De barco, podemos conhecer as ilhas Botinas, o principal ícone de Angra, dois tufos de palmeiras sobre rochas sublimados pelo verde-esmeralda do rebordo marinho; a ilha dos Porcos, do famoso cirurgião plástico Ivo Pitanguy, que até pista de aviação tem; ou a ilha de Caras, onde a famosa revista levava os seus convidados. Entre muitas outras. É bom não esquecer o número de ilhas: 365, uma para cada dia do ano.
Algumas delas ficam mesmo junto ao Pestana Angra ou em linha de vista e têm nomes tão sugestivos como Porcos 2, Ouriço, Arroz, Couqueiro e Capítulo. Esta última, considerada uma das mais extraordinárias ilhas do Brasil, pertence (ou pertencia, nunca se sabe quando estes imóveis de luxo mudam de dono) ao empresário português João Pereira e foi muito badalada em Portugal depois de o então primeiro-ministro e hoje presidente da Comissão Europeia Durão Barroso ter passado lá um réveillon, a convite do empresário, logo após ter imposto duras medidas de austeridade ao país.Com uma área de 5,5 hectares, a ilha do Capítulo possui, entre outras estruturas, um bungalowsuíte de dois andares com 300 metros quadrados. Um luxo.
No vizinho Pestana, também se tem a sensação de estarmos numa ilha gozando um luxo idêntico, embora o hotel se situe no continente. A sua disposição em anfiteatro, numa meia-lua abrigada da costa, coloca-nos permanentemente em contacto com o mar. Não terá a mesma privacidade da Ilha do Capítulo, mas também não se sente o frenesim típico de um hotel. Os 27 bungalows, todos com vista para o mar, estão rodeados de uma vegetação densa e é muito fácil esquecermo-nos de que há mais gente além de nós.
O tamanho dos bungalows varia entre os 50 e os 60 metros quadrados. A decoração, de inspiração tropical, é simples mas agradável. Ganharia em conforto e beleza se o chão fosse forrado a madeira, mas, fora isso, possui tudo o que se espera de um quarto de luxo. E na varanda não faltam espreguiçadeiras e sofás para descansar e olhar o mar. De resto, quando se chega ao Pestana Angra, depois de uma viagem de duas horas desde o Rio, o que apetece é mesmo descansar e apreciar a paisagem. O interesse do lugar começa mal se transpõe a porta de acesso ao empreendimento. Angra fica a cerca de 12 quilómetros de distância mas é uma cidade sem grande beleza. O seu principal atractivo é possuir um porto de onde partem os barcos para a ilha Grande.
Dentro do hotel, não falta nada: há um restaurante panorâmico, bar, sala de jogos, sala de leitura com Internet, piscina, fitness center, spa, loja com material de mergulho e serviço de aluguer de caiaques e de lanchas para descobrir as infindáveis ilhas e praias da região. O hóspede só precisa de uma coisa: ter dinheiro, muito dinheiro. A paisagem é de graça, mas uma hora de lancha pode custar mais de 250 euros. Ah!, nunca se esqueça de olhar a meteorologia. O Pestana Angra até com chuva é bonito, mas com sol pode ser inesquecível. Caro, mas inesquecível.
Como ir
A TAP voa diariamente para o Rio de Janeiro. Do Rio a Angra, a viagem pode ser feita de autocarro (custa menos de 15 euros e demora perto de quatro horas) ou de táxi (pode custar dez vezes mais mas demora metade do tempo). A melhor opção é contratar a hospedagem já com o transfer incluído.
Onde ficar
O Pestana Angra fica no lugar do Retiro, a cerca de dez quilómetros de Angra dos Reis, sendo servido pela chamada Estrada do Contorno, uma via circular que liga as principais povoações costeiras daquele município. O resort dista cerca de 160 quilómetros do Rio de Janeiro, 400 de São Paulo e 70 de Paraty.
Pestana Angra Beach Bungalows
Pestana Reservas: reservas@pestanaangra.com.br
http://www.pestana.com
Preço: entre 200 e 400 euros
A não perder
Visita a Paraty. É uma das mais belas cidades coloniais brasileiras e fica a menos de 30 minutos de barco do Pestana Angra. Por estrada, demora-se um pouco mais, mas também é muito mais barato.