Fugas - hotéis

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    O heliporto do hotel Daniel Rocha
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São Paulo tem mais encanto do 22.º andar do Tivoli Mofarrej

Por Paulo Curado

Está aqui, bem perto do céu, a maior suite presidencial da América Latina. São 750 metros quadrados de luxo que Sílvio Berlusconi ajudou a tornar famosos. Fomos conhecer os segredos do mais português dos hotéis paulistas, que tem a arte de Oscar Niemeyer, o paladar de Sergi Arola e o toque holístico de um santuário tailandês.

Na noite de 28 para 29 de Junho de 2010 Sílvio Berlusconi tornou mundialmente famosa a suite presidencial do Hotel Tivoli - Mofarrej de São Paulo. Se o espaço mereceria reconhecimento por motivos menos embaraçosos, a publicidade gratuita de alcance internacional, mesmo embrulhada em escândalo, acabou por ser bem-vinda. E com o pitoresco primeiro-ministro italiano como protagonista, o sucesso mediático foi garantido.

A estória conta-se em poucas linhas. Numa visita-relâmpago de dois dias ao Brasil para contactos com o ex-presidente Lula da Silva e com empresários dos dois países, o chefe de Estado europeu quis rematar a estadia em São Paulo com uma das tais festas que o colocam na ribalta fora das lides políticas e empresariais. Com o misterioso empresário Valter Lavitola como intermediário (o tal a quem Berlusconi, com o telefone sob escuta, teceu comentários depreciativos de cariz sexual da chanceler alemã Angela Merkel), organizou-se a folia.

Após apurada análise, foram seleccionadas sete jovens beldades tropicais para o magnífico cenário da suite presidencial, no 22.º andar do Edifício Mofarrej. O pretexto era prepararem uma coreografia de alguns minutos de dança do varão. Seguiu-se um jantar tipicamente italiano e uma festa tipicamente "berlusconiana" pela noite dentro. Poucas horas depois, a imprensa brasileira denunciava o sarau erótico, voando, de seguida, a informação pelo globo até cair, com estrondo, na comunicação social transalpina. O governo italiano ainda divulgou uma versão oficial dos acontecimentos, mas a nota informativa pouco mais impacto teve do que levar às lágrimas alguns comentadores brasileiros: "O que se passou na realidade é que foi organizado um breve espectáculo de folclore típico com a participação de alguns artistas brasileiros."

Deboche ou evento cultural, o facto é que a suite presidencial do Mofarrej e o próprio Tivoli ganharam fama inesperada. Nas horas e dias que se seguiram à visita do líder italiano, as linhas telefónicas do hotel foram entupidas por jornalistas ávidos de pormenores sórdidos, para além de potenciais clientes que insistiam em conhecer "a suite onde ficou Berlusconi!"

A esmagadora maioria engoliu em seco ao conhecer o preçário e desligou discretamente o telefone, os mais persistentes contentaram-se com um quarto bem menos oneroso nos pisos inferiores e com uma visita guiada ao patamar superior. Mas uma ínfima parte não se demoveu e aceitou pagar uma diária de 12,5 mil euros (sem direito a bailarinas eróticas).


Estrelas e anónimos


Resolvidas as "minudências" financeiras e aberto o elevador do 22º andar, o hóspede é brindado com uma experiência única, quase cinematográfica. Ao nível do céu, parece pairar-se sobre São Paulo quando se observa a magnífica vista panorâmica da cidade pelas múltiplas janelas que rodeiam uma sumptuosa área de 750 metros quadrados, que confere a este limbo o título de "Maior Suite Presidencial da América Latina".

Neste "reino", tudo rima com requinte e elegância. Além de três amplas suites, o espaço conta ainda com uma área de living com sala de jantar (ideal para reuniões e jantares privativos); cozinha particular, totalmente equipada (o cliente pode trazer o seu próprio chef ou optar por um fornecido pelo hotel); miniginásio (que pode transformar-se em quarto-extra, para instalar eventuais seguranças em serviço); sauna e jacuzzi, instalados na magnífica casa de banho da suite principal, parcialmente vidrada para o exterior, proporcionadora de experiências sensoriais únicas, se nos conseguirmos abstrair que esteve ali Berlusconi

Para além de tudo isto, a complementar esta experiência onírica, um espaço "secreto" na ampla sala esconde um mundo privado onde reina o palato: a Cave Dom Pérignon, criada exclusivamente para a degustação de safras especiais do mítico champanhe francês. O(s) convidado(s) dispõem ainda de um serviço personalizado de mordomo 24 horas por dia.

Este espaço privilegiado tem servido muitas celebridades em apenas dois anos e meio de existência. É uma espécie de símbolo do Tivoli São Paulo. Entre líderes políticos estrangeiros (como Berlusconi, Cristina Kirchner, presidente da Argentina, ou o rei Carl Gustaf da Suécia, entre muitos outros), artistas e bandas musicais nacionais e internacionais são outros dos habituais frequentadores dos luxos do 22.º andar do Edifício Mofarrej.

Entre estes últimos, uma das vedetas mais recordadas recentemente foi a desaparecida Amy Winehouse. Segundo relatou à Fugas um dos responsáveis pelo marketing do hotel, a cantora "entrou na suite presidencial e só voltou a sair, bastante atrasada, para o concerto que deu na cidade". Estava-se no dia 15 de Janeiro deste ano e Amy encerrava uma das últimas digressões da sua (curta) carreira. A presença e a (má) fama da cantora inglesa obrigaram a algumas medidas excepcionais no hotel, que a imprensa brasileira não tardou a revelar: foram retiradas todas as bebidas alcoólicas, assim como alguns objectos de decoração mais frágeis e dispendiosos. Mas, desta vez, tudo correria bem.

O mesmo não aconteceu cinco meses depois com a visita de Catherine Deneuve. A actriz francesa foi vista a fumar numa das salas do edifício Mofarrej, enquanto promovia o filme Potiche, violando a rigorosa lei anti-tabagista brasileira em relação aos espaços fechados, acabando o hotel por ser multado em 872,5 reais (365 euros).

Mas todas estas celebridades não suscitariam tanto interesse e curiosidade aos responsáveis e pessoal do Tivoli como o faria um autêntico estranho surgido do nada. "O caso mais insólito ocorreu com um cliente, perfeitamente desconhecido, do interior do Estado de São Paulo, que permaneceu na suite presidencial durante um número recorde de 20 noites consecutivas. No final, pediu a conta, pagou e foi embora, sem mais. Deve ter gostado, apesar do preço, porque regressou mais tarde e ficou mais dois dias", recordou à Fugas, com humor, Marco Amaral, director regional de Operações do Tivoli & Resorts no Brasil. A verdade é que os clientes anónimos representam também uma fatia estimável na ocupação deste espaço, nomeadamente jovens com posses que querem desfrutar de uma noite memorável com o seu par.

Mais do que os lucros directos proporcionados pela imensa suite do 22.º andar, a sua grande valia verifica-se ao nível publicitário, promovendo com o seu glamour a marca Tivoli e contribuindo para a sua afirmação no segmento exclusivo das cinco estrelas, em São Paulo. As celebridades potenciaram outro género de marketing e hoje multiplicam-se no hotel os pedidos de reservas para a realização de eventos de moda e lançamento dos mais variados produtos de luxo, como perfumes e cosméticos. Um êxito que se reflecte igualmente nas taxas de ocupação do hotel, deixando optimista o Grupo Espírito Santo (GES), proprietário da rede Tivoli.


Restaurante e spa de topo

Inaugurado em Março de 2009, o Tivoli São Paulo - Mofarrej, situa-se numa das zonas nobres da cidade, a menos de um quarteirão da afamada Avenida Paulista, e representa mais um passo na expansão pretendida pelo GES para a marca hoteleira portuguesa, fundada em 1933. O Brasil foi a primeira opção para a internacionalização da rede, após profundos estudos de mercado. O Tivoli Praia do Forte, na Bahia, e esta unidade em São Paulo foram os projectos pioneiros desta aventura externa, que poderá ainda passar por outros investimentos no Brasil e até chegar a Angola.

Na capital paulista, o Grupo Tivoli assinou um contrato de arrendamento por 30 anos com a família Mofarrej, proprietária do edifício, que começou por ser idealizado para albergar escritórios, quando foi construído na década de 1980. Mas acabou por ser a actividade hoteleira a marcar toda a sua história. Primeiro com a bandeira do Sheraton, depois como Gran Meliá e, finalmente, a partir de 2008, com a marca Tivoli. O grupo português apostou numa profunda reestruturação e reforma interna do espaço, que se prolongou por sete meses, num investimento global de nove milhões de euros. Todas as áreas comuns e acomodações sofreram intervenções, sendo construído um novo restaurante e instalado um spa tailandês, que hoje são, a par da suite presidencial, os grandes símbolos do hotel.

A intervenção manteve intacta a característica estrutura exterior do edifício, que o singulariza no panorama imobiliário paulista. A sua fachada externa foi projectada pelo mítico arquitecto Oscar Niemeyer: uma torre em betão, sem pintura, com arcos que recordam os designs dos anos de 1960, debruçando-se sobre a movimentada Avenida Paulista e o envolvente Bairro dos Jardins.

No interior, o hotel dispõe de 220 quartos, todos com vista para a cidade, divididos em oito segmentos, entre suites e quartos (com influência no preçário), excluindo-se da contabilidade o aristocrata 22.º andar, com lugar reservado no topo da pirâmide. Independentemente da categoria, a elegância e a generosidade dos espaços (com óbvias diferenças entre categorias) é regra geral.

O Tivoli São Paulo pretende ainda distinguir-se ao nível gastronómico e, neste aspecto, também apostou alto. No 23.º piso, logo acima da suite presidencial, está situado o restaurante Arola Vintetres, do afamado chef espanhol Sergi Arola, honrado com duas estrelas no Guia Michelin. Com uma decoração elegante, a sua iluminação discreta realça a grandiosa paisagem que o rodeia, particularmente deslumbrante à noite, quando entra em cena um autêntico caleidoscópio de luzes. Um espectáculo que concorre e retira algum protagonismo às iguarias mediterrânicas que vão desfilando pela mesa dos comensais, num conceito "tapas gourmet". Ingredientes que tornam o restaurante ponto de visita obrigatória para muitos paulistas (80 por cento da clientela é local) e até para clientes de hotéis concorrentes.

Alvo de forte procura dos habitantes de São Paulo é outra das "jóias" do edifício Mofarrej: o Elements Spa by Banyan Tree. Trabalhando em mais de 65 spas espalhados pelo mundo, esta operadora trouxe para o Tivoli de São Paulo as suas premiadas terapias asiáticas (e terapeutas treinadas directamente na Academia Banyan Tree Spa, em Phuket, na Tailândia), estreando-se na América do Sul. Ocupa uma área de 690 metros quadrados no quarto andar do hotel e oferece uma ampla série de tratamentos para um leque alargado de opções.

Numa região metropolitana com mais de 19 milhões de habitantes (a sexta maior do mundo), onde são registadas diariamente uma média de mil novas matrículas automóveis, o trânsito é assustador durante praticamente todo o dia. Para os habitantes VIP da cidade e arredores, a solução passa por viajar pelo ar e os helicópteros são um transporte rotineiro por estas paragens. Servem igualmente de negócio próspero para quem possua um estratégico heliporto no topo do seu edifício. É o caso do Tivoli, com localização privilegiada na cidade para escala dos aeropassageiros. Os helicópteros chegam tão rapidamente como partem, mas cada simples "toque" (para largar ou apanhar um passageiro) implica um custo de 500 reais (209 euros). Não é definitivamente para todos.

A menos de dois anos do arranque do Campeonato do Mundo de Futebol do Brasil (que decorrerá entre 12 de Junho e 13 de Julho de 2014), a expectativa é grande entre os hoteleiros brasileiros, particularmente os de São Paulo. É que a cidade irá receber seis jogos do torneio da FIFA, nomeadamente a partida de abertura e uma meia-final e já começaram a surgir as primeiras reservas, especialmente dirigidas às mais luxuosas suites da cidade, como a presidencial de Mofarrej.

Numa cidade onde a esmagadora maioria dos 11,7 milhões de visitantes anuais (dados oficiais de 2010) são nacionais (10,1 milhões contra apenas 1,6 estrangeiros) e onde os viajantes chegam preferencialmente para tratar de negócios (56,1%) ou participar em eventos (22,4%), apenas uma pequena franja (10,9%) vem em lazer. A exposição internacional potenciada pelo Mundial de futebol poderá ajudar a posicionar São Paulo na rota do turismo mundial.

Para já, enquanto aguarda pelas transformações que o Mundial de 2014 poderá introduzir no quadro estatístico anterior, o carismático José Luiz da Rocha, o simpático e bem-humorado "capitão-porteiro" do Tivoli, continua a fazer as delícias dos hóspedes que todos os dias chegam e partem do hotel. Conhecido por Mineiro, este anão de Minas Gerais apresenta-se de fraque, cartola e com um sorriso franco e desarmante para o observador mais ostensivo. Postura que o tornou nacionalmente famoso, ao ponto de ser convidado de honra do programa de Jô Soares, na Rede Globo, em Abril deste ano. Entrou ao serviço do Tivoli ao abrigo das quotas para deficientes, mas agarrou o lugar de pedra e cal e agora é mais um dos símbolos incontornáveis do edifício Mofarrej. 22 andares abaixo da suite das estrelas.

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