Fugas - hotéis

  • Conde de la Corte
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  • Convento de La Parra
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    Convento de La Parra

Em Espanha, entre a simplicidade conventual e o luxo taurino

Por Mara Gonçalves

Convento de La Parra e Conde de la Corte. Um foi convento de clarissas, o outro palacete de um grande ganadeiro de Espanha. Dois hotéis de charme diferentes, por Badajoz, mas com a mesma tónica na memória e conforto.

A aridez dourada do Alentejo segue-nos à janela, mas a língua enrola-se ao ler indicações e nomes de estabelecimentos à beira-estrada. A fronteira ficou para trás e depressa Badajoz dançará no vidro traseiro do carro, embalada na transpiração do alcatrão ardente. Os termómetros sobem acima dos 40ºC e nem o ar-condicionado dá as tréguas devidas ao Verão estremenho. O destino guia-nos para Sudeste, em direcção à comarca de Zafra-Río Bodión. O calor segue connosco. É lá que se situam os dois hotéis da marca Vivedespacio, empresa local e familiar, que fomos conhecer entre oliveiras e azinheiras, foie-gras artesanal e presunto ibérico, monumentos e artesanato.

Convento de La Parra 
Refúgio secular
Durante mais de 300 anos foi convento de clausura e esse ambiente de recolhimento ainda paira sobre as paredes robustas. O edifício caiado de branco ergue-se entre as ruas estreitas de La Parra para se dobrar sobre si mesmo, num abraço ao claustro arejado e luminoso. A povoação e os seus mil habitantes ganham existência somente à janela de alguns quartos ou para lá da antiga portaria em puzzle granítico, hoje recepção do hotel. Vela-se o mundo e o quadro é de azul-céu entre cal branca. A mudez do calor nos pátios ecoa pelo silêncio da penumbra nas alas interiores. E nós acabamos a sussurrar conversas para não interromper a paz que por aqui se vive.

O convento, erguido em 1673 para albergar as religiosas de Nossa Senhora das Dores (ordem de Santa Clara), foi transformado em hotel no ano 2000, quase vinte anos depois de a autarquia local ter adquirido o edifício. A ideia já era, então, reabilitá-lo, mantendo a traça da arquitectura e o ambiente do passado conventual. O conceito mantém-se agora sob alçada da Vivedespacio, que o adquiriu em 2010 (a marca nasceu no mesmo ano, integrando o Hotel Conde de la Corte e, um ano mais tarde, o Palacio Carvajal Girón, em Plasencia, entretanto vendido a uma cadeia hoteleira brasileira). 

As celas, antigos aposentos das freiras clarissas, foram adaptadas para 21 quartos individuais, duplos e suítes. No antigo refeitório, as arcadas de pedra dão agora abrigo às refeições dos hóspedes, num restaurante de cozinha regional. E a horta foi substituída por um pátio com piscina e cubículo de massagens (realizadas sob marcação antecipada). Já a capela é agora um espaço para eventos e uma loja de produtos da região surge numa sala anexa. 

A rusticidade da construção — paredes grossas caiadas de branco, chão em tijoleira de terracota, portas e janelas de madeira — é enaltecida por uma decoração despojada e em tons neutros, misturando elementos mais rurais e tradicionais com móveis contemporâneos e minimalistas. A aposta é no conforto e na tranquilidade. Não há televisores nem rádios — antes um salão com biblioteca e jogos de tabuleiro. Wi-fi praticamente só na zona do claustro e com fraca intensidade. Cada recanto é espaço de leitura, de fruição do nada. 

No primeiro andar, uma varanda circunda o claustro com camas para espreguiçar, ora de olhos perdidos nas cegonhas que habitam o topo da torre sineira, ora mergulhados no pátio lá em baixo, feito esplanada entre laranjeiras e uma fonte centenária. Ao final da tarde, trocamos a sombra pela zona da piscina, dividindo-nos entre um dos colchões-cama e mergulhos no pequeno espelho de água. O calor vai esmorecendo, o lago turquesa perdendo intensidade entre o níveo das paredes. O altifalante de um carro de comício salta o muro alto do pátio, pouco depois ouve-se o baile das festas da terra. E sabemos que a vida segue o seu ritmo habitual fora deste refúgio secular.

Convento de La Parra. Calle Santa María, 16 – La Parra. Tel.: +34 924 682 692.
E-mail: laparra@vivedespacio.com. www.vivedespacio.com/laparra
Preços: duplos a partir de 122€ por noite


Conde de la Corte ?
Ode à tradição taurina

Se no Convento de La Parra a simplicidade era o mote, aqui tudo é luxo palaciano. Móveis maciços de porte clássico, pesados reposteiros nos quartos e nas casas de banho, muitas tapeçarias e brocados. E a tradição taurina estampada em molduras pelas paredes de quase todas as divisões.

Construído em 1840, este palacete localizado no centro de Zafra tornou-se, um século depois, habitação permanente de Don Agustín de Mendoza y Montero de Espinosa, VI conde da Corte de la Berrona e dono de uma das ganadarias de touros bravos mais afamadas da Extremadura. Até meados do século XX, o edifício foi espaço de tertúlias e fomento do mundo tauromáquico na região. Um legado histórico que sobrevive um pouco por toda a antiga casa senhorial, adaptada para hotel em 2005. O mesmo foco no passado, uma história diferente para contar.

Ultrapassada a pesada porta com desenhos em vidro e ferro forjado, entramos directamente para um pátio interior, misto de hall e recepção. No tecto, a clarabóia de cristal inunda o espaço de luz, acentuando o contraste entre as paredes pintadas de encarnado desbotado e o mármore das colunas, do chão e da escadaria. À nossa frente, três touros negros olham-nos de cornos pontiagudos numa tela enorme, coroada por fotografias e posters de antigos toureiros, assinadas e emolduradas. Ao lado, uma velha jaqueta dourada tem honras de pedestal.

Trajes, memórias impressas e objectos tradicionais do universo taurino vão povoando cada uma das divisões, nos dois pisos do edifício. Incluindo nos 15 quartos, que recebem nomes de ganadarias espanholas e raças de gado. Cada recanto homenageia essa herança, com arreigada tradição na região estremenha, nomeadamente em Zafra, onde entre finais de Setembro e inícios de Outubro decorre uma das principais feiras ganadeiras do país vizinho. 

Em todo o hotel, a decoração clássica e aristocrática vai equilibrando os elementos tauromáquicos com motivos espanhóis e tecidos ao estilo inglês. Do salão comum com biblioteca e lareira à sala de refeições, onde uma robusta mesa de madeira convida os comensais a partilharem o pequeno-almoço. Nas traseiras do edifício, localizado junto à câmara municipal local, abre-se um pequeno pátio com piscina, bar e zonas de esplanada, entre um jardim de jasmim, buganvílias e palmeiras. E o terraço no topo do palacete é o lugar ideal para ver o sol pôr-se sobre os telhados de Zafra. 

Conde de la Corte. Plaza Pilar Redondo, 2 – Zafra. Tel.: +34 924 563 311. E-mail: condedelacorte@vivedespacio.com. www.vivedespacio.com/condedelacorte.
Preços: duplos a partir de 121€ por noite

Informações

Como ir
A melhor forma de chegar aos dois hotéis é de carro. La Parra fica a cerca de 3h de Lisboa (4h30 do Porto) e Zafra fica a 30 minutos daquela, conduzindo por uma estrada nacional para Sudeste.

Primeiro há que seguir em direcção a Badajoz, atravessar o rio Guadiana e a cidade raiana espanhola e depois descer pela estrada N-432. Se o destino for o Convento de la Parra, sair em direcção à pequena aldeia, seguindo as indicações para La Parra. O hotel fica situado numa das ruelas apertadas, já no extremo oposto da povoação (existe um pequeno parque de estacionamento privado nas traseiras do hotel). 

Se o destino for antes a casa-palácio Conde de la Corte, há que continuar pela estrada nacional até Zafra. O hotel fica no miolo do centro histórico, junto ao edifício da autarquia local. O estacionamento à porta é muito limitado, pelo que é provável que lhe indiquem para estacionar no espaçoso parque do outro hotel do grupo na cidade, a 300 metros de distância.

O que fazer
O centro histórico de Zafra está classificado como conjunto histórico nacional desde 1965 e integra vários monumentos que merecem uma visita. O antigo palácio dos duques de Feria é hoje um Parador (pousada), mas é possível entrar e visitar o claustro, para conhecer as suas lendas ou simplesmente ficar-se pela esplanada. Não muito longe, ficam a praça Grande e a praça Chica, com as suas arcadas pejadas de restaurantes e cafés, a fachada mudéjar da casa do Aljimez, a Colegiada da Candelária, as antigas ruas da judiaria ou a rua Jerez, com as varandas das moradias engalanadas de flores (e de prémios).

Tanto Zafra como La Parra são bons pontos de partida para conhecer este enclave rural da Extremadura, onde abundam mantos de azinheiras, sobreiros e oliveiras. Na fábrica Señorio de Montañera (em Salvaleón) ficámos a saber (quase) tudo sobre o presunto ibérico e as diferentes qualidades aqui produzidas. Na adega da Bodega del Boticario (em Feria) vimos vinho tinto estagiar em vasilhames de barro centenários. Na Patería de Sousa (Pallares) provámos aquele que será um dos melhores foie-gras do mundo e o único produzido de forma natural. Na Alfarería Guisado (Salvatierra de los Barros) descobrimos o artesanato feito com o barro da região. Algumas destas visitas não estão habitualmente acessíveis ao público geral, pelo que devem ser combinadas previamente com a Vivedespacio.

Mérida, cujo conjunto arqueológico está classificado como Património Mundial pela UNESCO, fica a cerca de 60 quilómetros de distância. No final de Setembro, a Feira Internacional de Ganaderia leva meio milhão de visitantes a Zafra.

A Fugas viajou a convite da Vivedespacio 

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