The Walled Off Hotel é a nova investida de Banksy, provavelmente o street artist mais famoso do mundo, e é um hotel que em tudo visa o desconforto – ou pelo menos o desconcerto. Tem “a pior vista do mundo”, está encostado ao muro da Cisjordânia, em Belém, e visa criar emprego, chamar turistas a um local onde eles não ficam e servir de espaço de exposições. É mesmo um hotel, que aceita reservas a partir do fim de Março, mas é também um convite ao diálogo. “É uma cura de três andares para o fanatismo, com lugares de estacionamento limitados.”
O Walled Off Hotel (cujo nome é uma referência à ideia de estar emparedado ou amuralhado, mas também um aproveitamento da quase homofonia com o nome de uma famosa cadeia de hotéis de luxo) foi apresentado esta sexta-feira à imprensa. Tem nove quartos e uma suite, alguns dos quartos partilhados custarão cerca de 28 euros por noite e a decoração conta com obras originais do artista plástico que trabalha há anos sob anonimato. Emprega, para já e segundo o diário britânico Telegraph, 45 pessoas. Fica na Area C da Cisjordânia, o que significa que os israelitas podem visitar aquela zona – nas outras, o acesso está-lhes vedado por lei.
O Guardian divulga que o artista, que tem várias obras na Cisjordânia, algumas das quais no próprio muro que separa Israel e os territórios palestinianos, descreveu o hotel como tendo “a pior vista do mundo” – o texto faz parte do comunicado à imprensa distribuído no local. Todos os quartos estão voltados para o muro e, no bar, há paredes engalanadas com câmaras de vigilância, detalha o Telegraph, tudo no meio de uma decoração de inspiração colonial. "Os muros agora estão em grande, mas eu já gostava deles muito antes de Trump os tornar cool", disse Banksy ao Channel 4.
"The worst view in the world" Banksy says of the view from his new hotel in Bethlehem pic.twitter.com/FQFQFWvCBJ
— Emma Graham-Harrison (@_EmmaGH) 3 de março de 2017
O elevador não funciona - está emparedado com tijolos, a torre da banheira da suite presidencial tem buracos que parecem de balas e os bustos estão de lenço na boca e lata de gás aberta a soltar "fumo".
Para quem não se hospede no hotel Banksy, haverá um serviço de chás e fora dos quartos alguns recantos com peças originais novas do artista – de murais a telas (uma das quais mostra uma rapariga numa espécie de janela de mira técnica que pinta um sinal que diz “Free Palestine”) e a manequins à mesa a evocar a assinatura da Declaração de Balfour, que data de 1917 e mostra um apoio britânico ao estabelecimento de um Estado judaico na região da Palestina. Exactamente cem anos depois, nada por acaso, Banksy abre um hotel que visa chamar turistas a uma zona empobrecida. Soube-se há perto de um mês que o britânico trabalhava neste projecto e agora confirma-se que foi erguido ao longo de um ano.
“Passam exactamente cem anos desde que a Grã-Bretanha tomou conta da Palestina e começou a reorganizar a mobília”, cita o Telegraph a partir das palavras do artista. “Não sei porquê mas parece uma boa altura para reflectir sobre o que acontece quando o Reino Unido toma uma gigantesca decisão política sem perceber completamente as consequências”, ironizou, referindo-se ao sim ao “Brexit” votado no ano passado.
Já em 2015, Banksy criou e abriu o parque de diversões subversivo Dismaland, em que deu espaço a artistas de vários países para comentar a actualidade (incluindo a portuguesa Wasted Rita).