Também a fachada exterior lateral da casa, junto à escada que dá para o Jardim da Cerca da Graça, está decorada com azulejos nos quais Maria gravou plantas da zona, como um herbário em cerâmica.
A sala, com a varanda onde se podem tomar os pequenos-almoços, e seis dos quartos dão para este jardim e para uma vista sobre a cidade que lembra à mãe de María um presépio. Vêem-se, mais próximos, a Igreja e o convento da Graça, ao fundo o Castelo de São Jorge, e, mais longe ainda, do lado direito, a ponte sobre o Tejo e o Cristo-Rei.
Esta casa é, acima de tudo, um espaço de encontros. O primeiro foi entre ela e María. “Digo sempre que a casa encontrou-me a mim. Estou em Lisboa por causa dela.” Cansada de viver em Espanha — onde trabalhara no hotel Convento de La Parra —, procurava “um estilo de vida diferente, mais calmo, mais humano, mais próximo”.
Quando encontrou este espaço e percebeu que no Largo da Graça (ainda) era possível ter essa vida, decidiu ficar. Hoje, confessa-se preocupada com o que o excesso de turismo está a fazer a Lisboa, mas preserva aqui um lugar especial.
No dia em que a visitamos está a preparar-se para receber o primeiro dos jantares que vai passar a organizar com chefs seus amigos (ela cozinha todas as segundas-feiras para os hóspedes da casa). Escolheu os seus três cozinheiros preferidos, que têm restaurantes num triângulo em torno da sua casa: Hugo Brito, do Boi Cavalo, David Eyguesier, d’Os Gazeteiros, ambos em Alfama, e Tiago Feio, do Leopold, junto ao Castelo de São Jorge. Estes jantares, para um máximo de 20 pessoas, são abertos a quem não é hóspede e deverão passar a acontecer regularmente.
Outro projecto em que María já está a pensar — “vêm-me à cabeça milhares de ideias”, diz — é o de, na época baixa, disponibilizar o quarto individual para residências artísticas. Depois, quem sabe, pode convidar o artista a ficar para um jantar e a partilhar o seu projecto.
“Para mim é uma forma muito bonita de se descobrir coisas que as pessoas estão a fazer. Vivemos numa época muito visual, em que se vê o resultado do trabalho mas falta sentir que se partilha, com tempo.” Essa partilha agrada-lhe, porque “dá-se algo mas também se recebe, como um abraço”. É isso, no fundo, que a sua casa faz: recebe-nos num abraço, como quem reencontra um velho amigo de quem já se tinha saudades.
Resposta rápida
O que é que a Graça tem de único?
As pessoas que aqui vivem. É o espírito das pessoas — a senhora Odete, o Luís do [restaurante] O Pitéu da Graça, a dona Adelaide da mercearia — que faz com que continue a ser um bairro.
Hoje sente-se mais espanhola ou mais portuguesa?
O Luís do Pitéu diz que eu sou a espanhola mais portuguesa de Lisboa. Quando me perguntam de onde sou, digo que sou espanhola de Lisboa. Não é tanto portuguesa, é de Lisboa.
Precisamos de mais turistas ou de menos turistas?
De turistas de qualidade, de pessoas que tenham interesse em descobrir a cidade e não que venham para marcar no mapa que estiveram cá.