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Igreja-caravela foi projectada pelo arquitecto Troufa Real

Igreja-caravela foi projectada pelo arquitecto Troufa Real Daniel Rocha

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Lisboa inaugura a polémica igreja-caravela do Restelo

Quando encarrega um arquitecto de conceber uma igreja, este departamento entrega-lhe um documento, a que chama "elucidário", para lhe guiar os passos. Nele se diz que "se devem evitar expressões de triunfalismo ou ostentação". O arquitecto deverá antes "procurar uma expressão de simplicidade e um certo despojamento, que mais se afirme pela qualidade arquitectónica do que pelos recursos decorativos".

Foi pouco depois de este documento ter sido elaborado, no início dos anos 90, que Troufa Real acedeu a desenhar a igreja para a paróquia sem cobrar honorários. "Processos como este são uma enorme ratoeira", nota o padre João Norton, da equipa de arquitectura do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura. "O pobre aceita a semente que lhe dão e cresce-lhe uma árvore de que não estava à espera". Neste caso, demasiado espalhafatosa para a função a que se destina: "Uma das qualidades de uma igreja deve ser o silêncio - mesmo visual - e a serenidade", advoga João Norton, para quem o simbolismo empregue no Restelo é "pobrezinho, superficial, de centro comercial". A contradição flagrante entre as orientações do elucidário e a obra do Restelo, explica-a o padre com uma simples frase: "Não é um documento vinculativo", tal como não o é o parecer do Secretariado das Novas Igrejas.Maçon e ao mesmo tempo católico - "como muitos bispos e até papas", salienta -, Troufa Real gosta de se comparar a Gaudi quando fala da incompreensão de que tem sido alvo nesta obra. Embora já tenha admitido gostar de ideias "que se aproximam do limiar entre o kitsch e o piroso", neste momento prefere descrever esta obra como um trabalho surrealista, "que parece feito por vários arquitectos diferentes".

"Considero-me um arquitecto de templos. Fiz esta igreja a pensar em Deus", declara. E pôs-lhe símbolos maçónicos? Onde? "São segredos meus", responde Troufa Real. "Como cardeal adjunto, foi D. José Policarpo [actual patriarca] quem lançou a primeira pedra da igreja", recorda. Certo é que a construção só avançou há dois anos. Como a obra não está pronta, depois da inauguração a empreitada ainda durará mais um ou dois meses.

Para fases posteriores do projecto, sem data marcada para avançar, ficarão quer a torre quer um outro edifício de grande porte. O padre Colimão já anunciou que não irá morar Na casa paroquial: "Gosto das coisas simples e pequenas". Então e a igreja? "Para a glória de Deus, tenho de fazer o melhor". Para declarar a seguir, orgulhoso: "Esta obra vai marcar a cidade de Lisboa. Deve ser a maior igreja construída em Lisboa nos últimos 25 anos". Quando ficar tudo pronto, os custos finais ascenderão "a sete ou nove milhões de euros".

Mais modesta no seu orçamento de 3,1 milhões, a igreja que está em construção em Miraflores, Algés, também granjeou desde cedo alguma antipatia. Aqui, o que serviu de inspiração a Troufa Real foi o cosmos. O povo, esse, chama-lhe "igreja-foguetão", mas também "supositório". "Aquele cilindro tem lá dentro uma cúpula invertida que é um meteorito", explica o arquitecto. Ignora-se, no entanto, quando poderá semelhante nave desafiar o espaço sideral: desentendimentos entre a paróquia e o arquitecto levaram a que a empreitada parasse há ano e meio. "É uma vergonha", queixa-se o projectista, alegando que alterações feitas ao projecto sem o seu consentimento transformaram o foguetão "num paliteiro sem segurança estrutural". Está previsto que o enorme cilindro seja forrado a azulejos de Querubim Lapa.

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