Começa-se a Descobrir Portugal e pode passear-se pela Ria de Aveiro, dar um salto à serra da Estrela ou Aljezur, espiar-se Coimbra ou Monsaraz, Porto ou Santo Tirso, descobrir-se um recanto do Pulo do Lobo ou navegar num galeão na Moita. Uma virtual volta a Portugal, continuamente partilhada, comentada, actualizada, "afectiva".
"A nossa importância são as diversas formas de intervenção, o Descobrir Portugal vive do esforço da sua própria comunidade", resumiu à Fugas o impulsionador desta página no Facebook, Rui Dias José, a propósito da conquista de um marco muito significativo: esta terça-feira, 12 de Junho, o contador do Descobrir Portugal (DP), subitamente, contabilizou 500.000 "gostos".
O grupo, nascido nos finais de Agosto de 2009, dedica-se a partilhar fotos e ideias sobre o melhor do país naquela rede social. Ao atingir meio milhão de seguidores, a página coloca-se entre as maiores do mundo relacionadas com Portugal - segundo o top geral do FbRank, o ranking de páginas portuguesas no Facebook, há momentos era a 14.ª (o universo do futebol lidera com Cristiano Ronaldo como n.º 1 e mais de 45 milhões de seguidores) -, é uma das mais activas e participadas e, definitivamente, a mais seguida no campo do turismo. E não apenas em Portugal: segundo dados do DP, mais de 300 mil seguidores estão no país mas não faltam fãs por todo o mundo, com o Brasil na dianteira (é o segundo país no top, com mais de 80 mil pessoas).
E quem está por trás de tanta gente, tanto país? Uma só pessoa. O jornalista Rui Dias José, 59 anos, mais de três décadas de carreira dedicadas a temáticas similares, entre marcantes programas de rádio com os quais percorria Portugal passo a passo (caso do Feira Franca, quase uma década na Antena 1), portais dedicados ao país (e desenvolvimento regional, como o Café Portugal), a revista Epicur (que dirige desde 2010, ano do relaçamento desta publicação de temática mais abrangente) ou a edição e apoio de obras como o "Portugal a Pé", de Nuno Ferreira.
"Com mais de 30 anos de profissão e mais de 20 de estrada país adentro, reivindico o título do jornalista que melhor conhece o país que se faz e constrói fora dos grandes centros de decisão política e económica". É assim que Dias José se apresenta, em jeito de cartão-de-visita, para que não restem dúvidas. O Descobrir Portugal começou, aliás, por um acaso "facebookiano". "A minha página pessoal já tinha quatro mil ‘amigos' na altura - então, o limite máximo - e quando ia criar outra e também a página do Café Portugal, lembrei-me de criar uma mais aberta à participação das pessoas", resume. Assim nasceu o DP, que, desde então, permite que "todos possam sempre publicar no mural". O que dá trabalho e tempo: "Exige uma grande atenção porque é um volume muito grande de gente. Em 500, há sempre cinco que escrevem coisas algo incríveis..."
Logo no primeiro mês de vida, a página atingia os cinco mil. Depois, "cresceu, cresceu, cresceu", à medida viral do Facebook. "Uns convidavam outros" e no primeiro ano já a comunidade somava 200 mil pessoas, criando um verdadeiro "caudal de imagens". Entre tanta foto, está Dias José, que intercala destaques noticiosos e reportagens do Café Portugal, músicas e vídeos de artistas lusos, chamadas de atenção.
"Raramente uso o meu nome. Só quando é preciso assumir a responsabilidade ou chatear-me com alguém...", diz-nos o responsável. Até porque a página não é absolutamente neutra. Faz campanha pelo uso da cortiça, defende a essência da cozinha portuguesa, reporta tradições controversas (como as touradas: "Não tomamos posição nem a favor nem contra, mas não me condicionem"), comenta o desenvolvimento turístico. Por outro lado, adianta, abstraem-se "de fenómenos mediáticos como o futebol ou as Maravilhas" ou de "querelas político-partidárias" ("o que não significa que não se debatam áreas politicamente relevantes, como a desertificação, a escola que fechou..."). Mas, acima de tudo, "falamos antes do chafariz da terra".
Nos primeiros tempos da comunidade, Dias José sublinhava à Fugas que no DP não há "outro interesse que não seja o de contar Portugal": "Não fazemos concursos nem damos brindes. Dependemos da vontade e empenhamento dos membros do grupo", referia. E, afiança agora, "o diálogo continua".
Dias José admite que o projecto lhe traz uma "grande carga de gozo pessoal", apesar de obrigar a uma "grande dedicação e retirar imenso tempo". Porque está sempre "de olho" na página, no que surge, no que se comenta. "Mas são muito gratificantes as palavras que se recebem". Principalmente de quem está fora, porque da emigração chegam muitas saudades. "No outro dia destacámos uma foto de um recanto de Portugal e logo alguém, que estava na Austrália, dizia: ‘a minha casa é mesmo aí ao lado!'".
Ideias para projectos a partir do DP não faltam, "mas o tempo...". Já se chegou a pensar num encontro nacional mas o plano acabou por capitular. Ainda assim, como "o grupo permite que toda esta gente converse, quando damos por nós estão a marcar encontros". "O DP pode levar muita gente a sair de casa, a viajar pelo país."
E qual o ingrediente secreto de tudo isto? "Uma linguagem afectiva. Ternura e carinho", diz-nos. "Os tecnocratas do turismo não têm por vezes sensibilidade para aquilo em que nós somos muito bons, para o sentimento ". A grande divisa passa pela "defesa do que é, de facto, português". E, remata Dias José, "num mundo em que somos cada vez mais números, há que haver ternura e afectividade, temos que ser cada vez mais humanos".
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