Se de repente, numa das suas viagens, encontrar um coração perdido pela rua, não se admire. É mesmo para si. Pode ser em papel ou em feltro, ou em variação origami, deixado ao acaso para quem o quiser apanhar.
A ideia nasceu recentemente, pela mão de dois amigos, Liliana Lima e Pedro Menezes. Começou num eixo Lisboa-Cartaxo e, entretanto, já foram avistados corações pelo Algarve ou Holanda, Luxemburgo, Canadá ou Brasil. É que estes corações viajantes ganharam mesmo asas.
A ideia de "oferecer algo a alguém desconhecido sem pedir nada em troca" nasceu há muito tempo, como explica Liliana Lima. Mas com o tempo foi tomando a forma de coração. "O meu filho mais novo chama-lhe "soltar amor"", diz Liliana.
Os "pingos de amor", como também lhes chamam, são deixados com uma mensagem e endereço do blogue (onde vão sendo contadas as histórias de cada um). "Todos os dias entra alguém na equipa", de tal forma que "já é difícil saber quantos somos e onde estamos", adianta a impulsionadora.
Os corações são ao gosto do freguês, ou melhor, do artesão. Os de Liliana, tal como da maioria, são de tecido ou feltro; os de Pedro ("até agora o único homem nesta equipa", sublinha) são de origami. Depois deixam-nos por onde passam: "num jardim, num museu, numa esplanada". Em dias de vento, presos aos limpa-pára-brisas. Depois esperam: "A maioria das pessoas desconfia, não lhes mexe, ou pega, lê e torna a pousar". Já os que os recolhem acabam por ir parar ao blogue e muitos entram na corrente.
O primeiro coração de todos teve direito a ser libertado em local muito simbólico: foi numa segunda-feira, dia 18 de Junho, na cafetaria junto à janela do lisboeta Museu das Comunicações. Pôr o coração directamente nas mãos de alguém é menos usual, mas também pode acontecer. "Na praia, há umas semanas, encontrámos uma noiva à espera para tirar as fotografias (...) e entregámos o coração ali mesmo".
Agora, é ir espreitando até onde viajam tantos corações, num projecto que segue a mesma linha de outros igualmente "amorosos", caso do recente e mediático Sinal de Alarme, em que o seu criador libertava uma flor (e uma mensagem) no metro para quem a quisesse apanhar.
Como conclui Liliana Lima na apresentação dos seus "pinga amores" nada mais se pretende que "soltar um sorriso nos locais mais inesperados e banais", "aquecer a alma de um desconhecido... só porque sim". Como diriam muitos viajantes e como dizia Blanche DuBois, a mítica personagem de Um Eléctrico Chamado Desejo de Tennessee Williams, "sempre dependi da bondade de estranhos".
pingamorporai.blogspot.com