A inspiração para esta técnica vem do botânico francês Patrick Blanc, cuja paixão por plantas surgiu quando a mãe o levou a uma feira de flores. Tinha apenas oito anos. O tempo passou, mas as viagens e passeios continuaram a inspirá-lo e a determinar o seu percurso. Já enquanto botânico, Patrick Blanc viajou até à Malásia, onde conheceu mais de duas mil espécies de plantas que crescem sem as raízes na terra. Incomodado com a falta de espaço horizontal e sabendo que havia a possibilidade de criar plantas usando apenas água e nutrientes próprios, Patrick plantou a ideia de um jardim vertical. A sua primeira intervenção data de 1986, na Cidade das Ciências e da Indústria (Parque de La Villette, em Paris). Quase duas décadas depois o conceito chegou a Portugal, com o jardim interior vertical do centro comercial Dolce Vita Tejo, desenhado pelo próprio Patrick Blanc.
Se a ideia de ter um jardim à janela pode causar algum receio de eventuais presenças indesejáveis, os arquitectos garantem não haver aqui seres que são comuns nos jardins tradicionais em que há terra. "Aqui os únicos animais que podem aparecer, e ainda bem, são as abelhas, para cumprirem o seu papel".
Questionado sobre a ambição do projecto, numa altura em que a crise é uma palavra recorrente, Tiago Rebelo de Andrade realça que a arquitectura pode ser uma aposta a longo prazo. "Se olharmos para outros países, percebemos que a riqueza que têm a nível da arquitectura, da cultura e da arte traz dividendos não só a curto, mas também a longo prazo. As pessoas vêm ver a casa. Daí que ela tenha sido escolhida para fazer o anúncio do novo Smart. Isso traz turismo e riqueza à cidade."
No interior do edifício da Lapa, que é agora uma moradia de três pisos com uma piscina no terraço (à venda por 1,5 milhões de euros), Luís Rebelo de Andrade aponta o prédio da Embaixada da Suíça, mesmo em frente. "Quando olha para um edifício destes, o que vê? Uma construção normal, um edifício que ao longo dos anos vai envelhecendo, vai-se desbotando. A mudança dos edifícios, o envelhecimento, é gradual ao longo dos anos. Aqui, queríamos que fosse um edifício que mudasse com as estações, diferente. No Verão, tem uma determinada imagem, vem o Inverno e tem outra. E na Primavera terá mais floração", explica. "É como uma árvore , uma casa viva que muda consoante as estações e não muda ao longo dos anos". Para o arquitecto, esta solução "é uma provocação à construção normal."
Face à natureza do projecto, confessa ter tido algum receio quanto a possíveis entraves da câmara. "A graça disto tudo é que nunca tive nenhum projecto em Lisboa em que fosse tão rápida a sua aprovação."
Luís Rebelo de Andrade refere, a propósito, um outro projecto que tem entre mãos. "É uma casa totalmente escondida. Dali vemos tudo e ninguém nos vê. Não há maior luxo que este. Estamos integrados na paisagem de tal forma que não a marcamos. A arquitectura, por más opções, vem destruí-la. Em sítios como Portugal devemos ter o cuidado de não a contestar." O seu filho, Tiago Rebelo de Andrade, confessa desejar que a solução seja copiada e acredita que a chave passa por olhar muito para o exterior. "O que é que se está a fazer lá fora? O que é que existe lá fora que não existe cá? Ou o que é que nós podemos fazer cá, que seja ainda melhor?"