Bailarinas de tutu, “anjas” com asas e auréolas, médicos, astronautas, bebés gigantes; óculos de sol de tamanho XL e cores berrantes são moda; cristas multicoloridas surgem no mar de cabeças; as meias são altas ao estilo Pipi; bóias e barcos insufláveis… Poderia ser um Carnaval fora de época e até o podemos ver assim – as serpentinas e os confettis é que tomam outra forma (tinta em pó) e o “baile” é antecedido de uma corrida que poderia ser a corrida mais louca do mundo mas prefere reivindicar o título dos “5 quilómetros mais felizes do planeta”.
São, pelo menos, os mais coloridos – no mínimo, há as “passagens” (zonas de cor oficiais onde voluntários pulverizam os participantes) de amarelo, laranja, cor-de-rosa e azul, onde ninguém escapa a um “banho” –, nada de estranho se atentarmos no nome: The Color Run, a corrida da cor, invenção norte-americana chegada à Europa via Matosinhos, no dia 7 de Abril. Entretanto, já contaminou outros países do velho continente e continua o seu périplo nacional: Coimbra será a próxima cidade a revelar as suas verdadeiras cores, no sábado, dia 4 de Maio (já com inscrições esgotadas); Lisboa seguir-se-á a 6 de Julho (segundo a organização, já foram vendidas metade das inscrições); Braga e Algarve não têm data definida.
A manhã começa chuvosa mas acaba em arco-íris. Em milhares de mini-arco-íris que transformam parte de Matosinhos na coisa inteira – e como sabemos que os arco-íris só aparecem depois da chuva, podemos dizer que esta é uma combinação ideal. Contudo, a chuva não faz parte dos planos – embora já tivesse ditado o adiamento desta estreia nacional, que esteve marcada para Março; o arco-íris, sim: não só faz parte dos planos, é o objectivo. E não precisamos de chegar ao final para perceber que foi conseguido – mas é no final que ele se mostra mais intenso e ondulante, em centenas de corpos a saltar ao rimo de música. Porque o que começa como corrida acaba em “festival”.
As indicações da organização são claras: concentração na Praça Guilhermina Suggia, em Matosinhos – mas há quem não saiba onde é e se limite a seguir os grupos perfeitamente identificados com as t-shirts brancas e equipamento (mais ou menos) desportivo que caminha por Matosinhos e até pára para café, sem saber que o ponto de partida está quase ao virar da esquina. Entre o mercado e a ponte móvel o ambiente já é de festa, ruidosa e exuberante – desde logo nos trajes que não pararão de surpreender, muito para além da t-shirt oficial, branca, que faz parte do kit de participação juntamente com uma saqueta com a “cor” (um pó natural, que adere à roupa colorindo-a), uma tatuagem e uma fita para a cabeça, entre outros.
Quem não vai correr, já lamenta a ausência e balança-se ao som da música que rasga a manhã: à beira das barreiras de entrada, a família Carvalho, vinda de Barcelos, balança-se ao som de “Gangman Style” (“estamos a aquecer”, brinca o pai, José), enquanto observa a filha Vanessa, voluntária da organização que, a alguns metros, enverga uma t-shirt e ajuda nas entradas. “Estou arrependida de não ter vindo”, lamenta a mãe, Maria Rocha.