A Escola Profissional de Recuperação do Património de Sintra vai promover, a partir de Setembro, acções de restauro na Quinta da Ribafria, propriedade do município, que a Câmara pretende concessionar para hotel de luxo.
Numa primeira fase, o restauro vai incidir sobre quatro estátuas do jardim, duas fontes ornamentadas com guerreiros e nas escadarias e tecto de uma sala do palácio, disse nesta quinta-feira à Lusa uma fonte da Câmara de Sintra.
A Quinta de Ribafria, adquirida em 2002 pelo município, foi durante anos propriedade do IPSD-Instituto Progresso Social e Democracia (actual Instituto Francisco Sá Carneiro) e funcionou como "retiro" social-democrata durante os Governos de Cavaco Silva.
O presidente da autarquia, Basílio Horta (PS), já anunciou que, depois da recente limpeza da propriedade, a Câmara tenciona lançar concurso para um "hotel de alta qualidade", assegurando que os jardins serão abertos à população para visitas e espetáculos.
"A ideia é transformar [a Ribafria] num belíssimo Grande Hotel, aproveitando as antigas instalações do IPSD, que devem dar cerca de 30 quartos, e o próprio palácio", com mais 16 quartos, até um máximo de 50 quartos, admitiu o autarca em Julho na Assembleia Municipal de Sintra (AMS).
Basílio Horta prometeu então que "até ao fim do ano" será possível "ver espetáculos de ópera e de música na Ribafria", e que a autarquia aposta na recuperação da quinta, mas as "grandes obras" ficarão a cargo do concessionário que vencer o concurso para a sua adaptação em unidade hoteleira de luxo.
"Temos oito hotéis que estão em vias de licenciamento. Cinco poderão ser licenciados este ano e três para o ano", acrescentou o presidente da câmara, que prevê lançar em breve o concurso para recuperação do Hotel Netto, na vila, e que as obras comecem "este ano ou no primeiro trimestre" de 2015.
"É evidente que a Ribafria precisa de um destino", afirmou à Lusa o presidente da AMS, Domingos Quintas (PS), que participou, em 19 de Julho, numa visita privada de deputados municipais e autarcas da freguesia a "um dos mais emblemáticos monumentos da Renascença sintrense".
O presidente da assembleia considerou positiva a recente limpeza da propriedade, mas esta precisa de ser reabilitada e de "um projecto que assegure uma utilização sustentável".
A histórica quinta no Lourel, cuja casa e torre foram edificadas no século XVI, pertenceu à família Mello e foi vendida em 1988 à Fundação Friedrich Naumann, através do IPSD, devido a condicionalismos para investimentos germânicos no exterior. A fundação alemã retirou-se de Portugal na década de 1990 e os dois terrenos que compõem a propriedade, no total de 13,3 hectares, acabaram vendidos a uma sociedade imobiliária de João Vale e Azevedo, ex-dirigente do Benfica.
O IPSD conseguiu a anulação judicial da venda, alegando que Vale e Azevedo tinha efectuado "negócio consigo próprio", em vez de transferir a quinta para o seu verdadeiro dono, a fundação alemã. O Instituto Português do Património Arquitetónico (IPPAR) recusou, em 2001, exercer o direito de preferência sobre a Ribafria - opção legal nos imóveis classificados -, mas a Câmara de Sintra aproveitou para comprar a quinta por 2,1 milhões de euros.