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Há uma caça ao tesouro numa praia inglesa. No areal estão 10 mil libras em barras de ouro

Por Luís J. Santos

É tudo em nome da arte. Um artista enterrou as barras na praia de Folkestone e anunciou: o ouro é de quem o achar.

Michael Sailstorfer é um artista alemão com um projecto artístico que vale ouro. Literalmente. Pegou em 30 barras de ouro, avaliadas em 10 mil libras (cerca de 12 580 euros) de diferentes tamanhos e com a inscrição "Made in London", e enterrou-as nas areias de Outer Harbour, porto de Folkestone, em Kent, sudeste da Inglaterra, a cidade onde "desagua" o Túnel do Canal da Mancha. O aviso foi lançado: assim que a maré baixasse, qualquer um poderia dar vazão à sua febre do ouro e, caso encontrasse alguma barra poderia ficar com ela.

A maré cheia prolongou-se até perto das 16h e, desde então, uma maré de gente invadiu as areias douradas de Folkestone. O jornal The Guardian tem mesmo um blogue em directo que regista esta caça ao tesouro e vai resumindo os acontecimentos e achados. "Às 15h50, cerca de 50 escavadores a sério. às 16h pelo menos 100. às 16h10 pelo menos 150...", resumem.

O jornal local Folkestone Herald relata que se podem ver "mineiros" com os mais diversos objectos, incluindo baldes e pás de praia ou até uma bandeja, além de profissionais detectores de metais...

Temos, portanto, uma verdadeira caça ao tesouro que ultrapassa em muito a brincadeira de praia. Até porque a "brincadeira" criada por Sailstorfer é uma intervenção artística (chama-se "Folkestone Digs") e insere-se até no pré-programa da Trienal de Folkestone, evento que congrega as mais variadas artes e que arranca a 30 de Agosto (prolongando-se até 2 de Novembro).

Mas... será arte? "É um trabalho artístico participativo". resumiu ao Guardian o curador da trienal, Lewis Biggs. "É sobre as pessoas virem à praia, cavarem e, possivelmente, acharem um tesouro escondido. Algumas pessoas terão sorte, outras não - é a vida", acrescentou, referindo que uma das partes curiosas será a própria decisão de cada um sobre o que fazer à "barra-obra de arte" que achou.

Biggs lança potenciais dilemas: "Levá-la a uma casa de penhores ou à leiloeira Sotheby's? Guardá-la sobre a lareira porque se pensa que virá a valer muito mais? Será que o seu preço aumentará como obra de arte ou como peça de ouro?". Pelo menos para uma das questões já há resposta: uma ourivesaria já está a dar (muito) valor à arte e, segundo o Folkestone Herald, a oferecer o dobro do que valeria cada barra.

Enquanto as perguntas e respostas vão e vêm, o certo é que há mineiros numa praia inglesa a quem a febre não baixa até a maré voltar a encher. E resta ainda uma questão: será que se ficarão por hoje ou nascerá uma nova lenda, como é tradição nas histórias de tesouros escondidos, de que ainda restam barras perdidas? Haverá gente a cavar as areias de Folkestone para sempre? Ou até: terá o mar força suficiente para carregar as mais pequenas e leves das barras de ouro até outras paragens?... Vai-se a ver não é só o projecto artístico de Sailstorfer que vale ouro: o mito que acaba de criar também.

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