Em Fevereiro de 2007, um fatídico acidente ditou o início da trajectória rumo à desactivação do que restava da centenária Linha do Tua e à aprovação de uma barragem com a condição de garantir um plano de mobilidade às populações.
A barragem de Foz Tua está quase pronta, o plano existe, mas ainda ninguém sabe se vai ser executado e mesmo com a recuperação dos carris que não vão ser afogados pela albufeira, o mais certo é as populações ribeirinhas ficarem a ver passar o comboio com os turistas do Douro.
"Isto é um projecto eminentemente turístico, não é um projecto de transporte de passageiros", enfatizou à Lusa Freitas da Costa, director geral de projecto da barragem, concessionada à EDP.
A chamada mobilidade quotidiana, a daqueles que anteriormente viajavam de comboio e agora são servidos por táxis alternativos, "vai continuar a funcionar" da mesma forma, segundo ainda aquele responsável.
A EDP avança que há já planos para a componente turística em articulação com o turismo do Douro e a ideia é que o Tua possa ser explorado pelos mesmos operadores que atualmente fazem os passeios de barco entre o Porto e Barca D´Alva.
A eléctrica assegura 10 milhões de euros para a componente fluvial deste plano que deixou cair o anunciado funicular para subir os turistas até à cota da barragem porque "representaria custos de investimento, de operação e até problemas de funcionamento do programa".
Mantém-se o percurso de barco pelos 16 quilómetros entre a barragem e Brunheda e a EDP pretende avançar já este ano com a construção de quatro cais ao longo da albufeira e um quinto no Tua para atracarem os barcos do Douro. A empresa vai também recuperar um pequeno troço de dois quilómetros da linha, a jusante da barragem, para miradouro.
Na incerteza permanece a componente ferroviária do plano de mobilidade que prevê a reabilitação do que restará da via férrea entre a Brunheda e Mirandela, mas que está dependente do financiamento de 20 milhões de euros de fundos comunitários. O projecto está ser desenvolvido na globalidade pela Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua e o director, José Silvano, adiantou à Lusa que espera apresentar a candidatura "lá para março", logo que abram as candidaturas ao novo quadro comunitário de apoio. Se não for aprovado, a mobilidade quotidiana continua a ser feita com os transportes alternativos ao comboio.
Na agência, são parceiras as câmaras de Mirandela, Carrazeda de Ansiães, Vila Flor, Murça e Alijó e a EDP, mas o director não abre mão do comboio, a regressar, servir também as populações. "As exigências que vamos pôr a esse operador é que além do transporte turístico faça também o transporte quotidiano para aqueles que o desejarem, podem não ser muitos, mas para aqueles que o desejarem", afirmou.
Céptico está o presidente da Câmara de Carrazeda de Ansiães, José Luís Correia, porque "o que se vê crescer no Tua, é o paredão da barragem". A obra, que a Lusa visitou no início de Fevereiro, está no pico com mil trabalhadores, quase um terço da região, e 72 empresas, 10 por cento locais. Um investimento de 408 milhões de euros com a paredão a unir já as duas margens do Tua e a EDP a prever para o início de 2016 o enchimento da albufeira.
O receio do autarca de Carrazeda de Ansiães é de que "dentro de um ano a barragem está praticamente concluída e não haja tempo para que todas as medidas compensatórias sejam implementadas, nomeadamente no que diz respeito ao plano multimodal de mobilidade". "Tenho algum receio de que se a obra ficar pronta depois não se faça mais nada", desabafou, mostrando-se "um pouco receoso pelo atraso de algumas iniciativas".
Ainda assim, José Luís Correia é crítico por "muita dessa gente que defende a linha, que defende o vale, nunca ter passado, antes da polémica, na linha, nunca tenha andado de comboio e nunca tenha passado no Vale do Tua".
"Porque é que nunca ninguém teve uma iniciativa de a aproveitar turisticamente enquanto ela esteve funcional? Porque é que só se lembram de defender a linha depois de que ela se tornou inviável?", pergunta, sugerindo ali ao lado, no distrito de Vila Real, a Linha do Corgo, também desactivada e que "ninguém se lembra de viabilizar".
Frustração é o que sente Armando Azevedo, do Movimento de Cidadãos em Defesa da Linha do Tua, que nasceu em 2010 na pequena aldeia de Codeçais, com apenas algumas dezenas de pessoas, e foi um dos que levou o tema à Assembleia da República. "Para mim é uma enorme tristeza ver afundar este vale do Tua com esta linha", desabafou. Entristece-o também a satisfacção de alguns conterrâneos com o serviço dos táxis alternativos ao comboio porque os levam e trazem à porta de casa, bem diferente do caminho esburacado e em terra batida que tinham de fazer para chegar à estação na linha do Tua. "Mas isso não vai durar sempre e esta região fica isolada completamente porque deixa de haver mobilidade", antevê. Quanto ao plano de mobilidade, nunca acreditou nele e vaticina que "já foi todo por água abaixo".
O director da agência, José Silvano, reconhece que o mais visível é o paredão da barragem a crescer, mas lembra que as populações já ganharam o Parque Natural Regional do Vale do Tua, 600 mil euros por ano durante 75 anos do fundo correspondente a três por cento da faturação liquida com a produção de energia na barragem, dois milhões de euros para a construção do centro interpretativo no Tua, e dois milhões para reabilitação de património.
E ainda o programa de empreendedorismo, que vai na terceira edição, e ajudou a criar 72 empresas e 143 postos de trabalho.