Comunicado da Ryanair, 19 de Março. "Em relação à recente cobertura jornalística, o conselho de administração da Ryanair Holdings PLC vem clarificar que não analisou ou aprovou qualquer projecto transatlântico e não tem intenções de fazê-lo".
Declaração da Ryanair, 16 de Março. "O conselho de administração da Ryanair" já "aprovou os planos de negócios para o crescimento futuro, incluindo transatlântico". "Estamos em conversações com fabricantes sobre aparelhos de longo curso". A uma pergunta directa da Fugas, Robin Kiely, chefe de comunicações da Ryanair, confirmava ainda: "As tarifas mais baixas começarão em 10 euros/10 dólares".
Em menos de 72 horas, a global e viral notícia de que a companhia iria, de facto, investir no projecto transatlântico e até garantia bilhetes a preço de voo doméstico europeu, tornou-se uma não-notícia. O teor do comunicado mais recente parece apenas um desmentido de informações publicadas na imprensa. Parece, já que o que desmente é, como se vê, informações divulgadas e confirmadas pelos departamentos internos de marketing e comunicação da própria empresa.
A primeira declaração ia até mais longe: "gostaríamos de oferecer voos de baixo custo entre 12-14 cidades" europeias e norte-americanas; os planos estariam dependentes apenas da "aquisição de aparelhos de longo curso viáveis" para que pudessem existir voos transatlânticos low cost "dentro de quatro a cinco anos".
Para mais, é bem conhecida a vontade expressa do carismático e polémico patrão da Ryanair, Michael O'Leary, de um dia voar passageiros por 10 euros/10 dólares sobre o Atlântico. Nos últimos anos o assunto tem voltado à baila, quase sempre via O'Leary, célebre por lançar soundbites ao seu modo muito próprio, entre opiniões, planos (ou uma ou outra "ofensa"/crítica). Frequentemente, a promessa de EUA por um punhado de dólares tem sido vista mais como fogo de vista do que como um plano concreto, real e possível. Esta semana, porém, graças ao comunicado oficial da empresa que referia explicitamente que o conselho de administração tinha aprovado a aposta no transatlântico, essa possibilidade parecia ter ganho pernas para andar, apesar de todas as desconfianças de muitos especialistas.
A contradição já origina várias teorias. A AFP, por exemplo, refere que a origem do dilema estará num "erro inicial" relacionado com "os contornos do anúncio". Não seria o conselho de administração da Ryanair a aprovar ou anunciar os voos transatlânticos, já que o projecto, embora nascido da empresa, seria levado a cabo por uma companhia diferente, com outro nome.
"Dito isto, o grupo está sempre desejoso de lançar este projecto. O plano de acção está pronto, tudo o que falta agora são os aviões", diz à agência uma fonte identificada apenas como "conhecedora do dossier".
Já o próprio O'Leary disse entretanto, ao Financial Times, que se terá tratado de uma "falha de comunicação" [interna]. Sempre directo e sem papas na língua, até disse mais ao jornal, comentando que a empresa, numa tradução ligeira, "fez merda" (ou, no original menos ligeiro, "that Ryanair had “f***** up”).