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O'Leary, aqui fotografado em Janeiro num

O'Leary, aqui fotografado em Janeiro num "voo" sobre Roma: a Ryanair "f***** up", comentou a propósito das confusões sobre os voos para EUA Max Rossi/Reuters

Ryanair desmente Ryanair e volta atrás nos voos para os EUA

Por Luís J. Santos

Anúncio oficial de aposta em voos transatlânticos desmentido oficialmente dias depois. Afinal, quantas Ryanairs existem?

Comunicado da Ryanair, 19 de Março. "Em relação à recente cobertura jornalística, o conselho de administração da Ryanair Holdings PLC vem clarificar que não analisou ou aprovou qualquer projecto transatlântico e não tem intenções de fazê-lo". 

Declaração da Ryanair, 16 de Março. "O conselho de administração da Ryanair" já "aprovou os planos de negócios para o crescimento futuro, incluindo transatlântico". "Estamos em conversações com fabricantes sobre aparelhos de longo curso". A uma pergunta directa da Fugas, Robin Kiely, chefe de comunicações da Ryanair, confirmava ainda: "As tarifas mais baixas começarão em 10 euros/10 dólares".

Em menos de 72 horas, a global e viral notícia de que a companhia iria, de facto, investir no projecto transatlântico e até garantia bilhetes a preço de voo doméstico europeu, tornou-se uma não-notícia. O teor do comunicado mais recente parece apenas um desmentido de informações publicadas na imprensa. Parece, já que o que desmente é, como se vê, informações divulgadas e confirmadas pelos departamentos internos de marketing e comunicação da própria empresa.

A primeira declaração ia até mais longe: "gostaríamos de oferecer voos de baixo custo entre 12-14 cidades" europeias e norte-americanas; os planos estariam dependentes apenas da "aquisição de aparelhos de longo curso viáveis" para que pudessem existir voos transatlânticos low cost "dentro de quatro a cinco anos".  

Para mais, é bem conhecida a vontade expressa do carismático e polémico patrão da Ryanair, Michael O'Leary, de um dia voar passageiros por 10 euros/10 dólares sobre o Atlântico. Nos últimos anos o assunto tem voltado à baila, quase sempre via O'Leary, célebre por lançar soundbites ao seu modo muito próprio, entre opiniões, planos (ou uma ou outra "ofensa"/crítica). Frequentemente, a promessa de EUA por um punhado de dólares tem sido vista mais como fogo de vista do que como um plano concreto, real e possível. Esta semana, porém, graças ao comunicado oficial da empresa que referia explicitamente que o conselho de administração tinha aprovado a aposta no transatlântico, essa possibilidade parecia ter ganho pernas para andar, apesar de todas as desconfianças de muitos especialistas. 

A contradição já origina várias teorias. A AFP, por exemplo, refere que a origem do dilema estará num "erro inicial" relacionado com "os contornos do anúncio". Não seria o conselho de administração da Ryanair a aprovar ou anunciar os voos transatlânticos, já que o projecto, embora nascido da empresa, seria levado a cabo por uma companhia diferente, com outro nome.

"Dito isto, o grupo está sempre desejoso de lançar este projecto. O plano de acção está pronto, tudo o que falta agora são os aviões", diz à agência uma fonte identificada apenas como "conhecedora do dossier".

Já o próprio O'Leary disse entretanto, ao Financial Times, que se terá tratado de uma "falha de comunicação" [interna]. Sempre directo e sem papas na língua, até disse mais ao jornal, comentando que a empresa, numa tradução ligeira, "fez merda" (ou, no original menos ligeiro, "that Ryanair had “f***** up”).  

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