Ter a perspectiva que o maquinista do comboio sente ao ver a linha desfilar à sua frente, com a sucessão de curvas e contracurvas, as pontes, os túneis, as passagens de nível, as estações, as agulhas, vai ser possível, com imagens de grande resolução da Google, que vai aplicar o conceito de Street View ao ambiente ferroviário.
A empresa vai desenvolver em Portugal um projecto que ainda só teve uma primeira experiência nos caminhos-de-ferro suíços e que consiste em colocar uma câmara de 360 graus numa composição ferroviária e percorrer uma linha férrea de ponta a ponta, recolhendo as imagens tal como se estivesse na cabine da locomotiva. Imagens que, neste caso, serão até mais amplas porque, quer no Google Maps quer no Google Earth, os utilizadores poderão também ter uma perspectiva circundante da paisagem.
O projecto é um bom exemplo de cooperação entre empresas do sector ferroviário. A CP disponibiliza uma locomotiva, a CP Carga fornece um vagão onde será instalada a câmara e um operador, e a EMEF (empresa de manutenção da CP) procede à adaptação do material circulante e montagem do equipamento. A Refer, que também é parceira neste empreendimento, prescinde de cobrar a taxa de uso (portagem ferroviária) pela passagem deste estranho comboio pelas suas linhas.
A linha do Douro, entre o Porto e o Pocinho, será a primeira a ser percorrida, devendo as filmagens terem início na próxima quinta-feira, 23 de Abril. A linha de Cascais também está na lista, tendo em conta, também, o seu potencial turístico e enquadramento paisagístico. Mas o projecto incluiu ainda a linha do Norte e a linha do Oeste (entre Lisboa e Figueira da Foz e Coimbra).
No total das quatro linhas, serão mais de 700 quilómetros percorridos em 13 dias à vertiginosa velocidade de… 30 quilómetros por hora.
O projecto envolve a Google Polónia, Google Espanha, Google Suíça e Google Portugal. Técnicos estrangeiros desta empresa vão estar no Porto e na linha do Douro para dar formação e proceder à montagem do equipamento, decorrendo depois as filmagens por conta de pessoal da CP.
Pôr em circulação o “comboio da Google” não se tem revelado fácil devido à rígida regulamentação ferroviária, que não foi pensada para uma composição deste tipo. Por exemplo, o normal é que as locomotivas reboquem os vagões ou as carruagens, em vez de os empurrar. Mas neste caso os percursos terão de ser percorridos com um vagão empurrado por uma máquina, situação que obriga a autorizações especiais emanadas do Instituto da Mobilidade e dos Transportes.
Na Suíça, a solução encontrada foi também a colocação de um vagão à frente de uma locomotiva que percorreu os 130 quilómetros da Ferrovia Retica, umas das linhas de caminho-de-ferro mais espectaculares do mundo, na qual circulam os famoso comboio turístico Bernina Express. A Google registou em 360 graus a viagem por esta arrojada obra de engenharia através dos Alpes, com viadutos de cortar a respiração e túneis que rompem as montanhas para desembocar em pontes em curva que atravessam precipícios. Não é por acaso que esta via-férrea é considerada Património Mundial da Humanidade pela UNESCO.